domingo, 21 de dezembro de 2008

Sirenes! Ambulância? Não, polícia

Morar aqui na Austrália às vezes é entediante, são raros os momentos em que sentimos a adrenalina sendo jorrada em nosso sangue. Não que essa mudança seja sem emoções, mas a adrenalina que me refiro aqui é a adrenalina negativa, do medo, da violência. Por quase oito meses ouço constantemente o barulho de sirenes ecoando pela cidade, e em todas as vezes que estico o pescoço buscando por uma perseguição policial, me frustro. Nunca vi um lugar para ter tanta gente precisando de ambulância e bombeiros! Todos os dias ouço sirenes por pelo menos duas vezes, e sempre que olho pela janela pensando: “será minha primeira perseguição policial?”, me deparo com um caminhão de bombeiros ou ambulância passando por mim.

Dos últimos quatro dias, por duas noites, presenciei perseguições policiais. Uma delas, com o envolvimento de diversos carros de polícia, pelo menos dez. Passei esses dias em Sydney, e tive que vir para cá para finalmente ver coisas desse tipo acontecendo. Não que Sydney seja uma cidade violenta, mas sem dúvidas ela já possui algumas mazelas de uma cidade grande. O resultado dessa experiência? A percepção que fiz a escolha certa ao optar por morar em Brisbane.

De uma forma ou de outra, ao vir para Sydney pela terceira vez, criei a expectativa que ficaria tentado em mudar para cá, e isso não aconteceu. Depois de oito meses morando em Brisbane, ao chegar aqui, notei que algumas coisas pareceram estranhas para mim. Vi poucos pontos que Sydney realmente agrega sobre Brisbane e, para ser mais exato, vejo três vantagens de morar lá (seguindo a ordem de importância): O fato de estar no litoral, o mercado de trabalho, e a vida noturna / cultural.

Morar na praia é sem dúvida algo de peso para mim, vou à praia com freqüência, e passar uma hora no carro para curtir um dia na praia incomoda. O mercado de trabalho é algo que considero neutro, pelo menos por agora, que estou satisfeito com meu trabalho e planejando ficar lá por um tempo. Já a terceira vantagem é praticamente indiferente, pois são raros os momentos que saio para curtir à noite. Esse ponto só merece destaque, pois ele pode agregar justamente naquele dia que você está procurando algo diferente para fazer. Nesse caso, Sydney sempre lhe oferecerá uma opção.

Por outro lado, nesses quatro dias me deparei com mendigos, um clima diferente (com frio de dezesseis graus em pleno verão), gente mijando no meio da rua, uma mãe dando cerveja para um bebê de colo, sujeira (se comparado à Brisbane, não ao Brasil), um sistema de transporte público mais complexo e caro, motocicletas acorrentadas em postes para não serem roubadas, etc.

Não que nada disso não fizesse parte da minha realidade quando eu estava no Brasil, mas acho que após esse tempo morando em Brisbane, me acostumei com a organização e simplicidade que a cidade oferece. Em Sydney tive a mesma sensação que tinha quando eu saía de Fortaleza para passar uns dias em São Paulo, no qual por um lado você se encanta com o que a cidade oferece, e do outro você não consegue se imaginar morando lá. Isso quer dizer que morar em Sydney é uma opção descartada? Claro que não! Assim como quando eu estava no Brasil, nunca desconsiderei a possibilidade de morar em São Paulo, aqui também não seria diferente. Mas acho que a única coisa que faria com que isso acontecesse seria a existência de uma oportunidade única, que oferecesse algo que eu realmente não conseguiria alcançar em Brisbane.

sábado, 22 de novembro de 2008

Nuvens negras adiante

Esta semana estamos passando por uma situação atípica. Nos últimos cinco dias tivemos três tempestades bem fortes. O saldo disso são centenas de casas com telhados arrancados, mais de 230 mil residências sem energia e cerca de 14.500 acionamentos de seguro, estimados em 125 milhões de dólares australianos.

O primeiro dia de tempestade foi no domingo, estávamos na estrada retornando de uma viagem. Estava um dia parcialmente nublado com algumas nuvens negras no céu. Em questão de minutos fomos surpreendidos por uma imensa camada de nuvens, com muita chuva, raios e ventos extremamente fortes, parecia coisa de filme. Paramos o carro e aguardamos por cerca de 40 minutos, pois não havia como dirigir naquelas condições, e ficamos então assistindo o espetáculo

Para minha surpresa, quando chegei ao trabalho na segunda-feira e abri os sites de notícia, me deparei com a seguinte manchete: “Queensland tem sua pior tempestade em 25 anos”. O assustador é que a conclusão não foi dada pelo volume da chuva, mas sim pelo nível de destruição causado (calculado pela ENERGEX empresa de energia do Estado). A cena se repetiu novamente na noite de quarta e quinta-feira, causando dessa vez novos estragos à região. A tempestade de ontem, por exemplo, teve mais de 3000 raios e ventos de 90 km/h.

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O interessante de passar por uma tempestade como essa na Austrália, é notar as diferenças entre o que vivenciamos aqui contra o que víamos no Brasil. Aqui temos tempestades de raios, literalmente falando. Vi mais raios nesse último mês do que em toda a minha vida no Brasil. Chega a ser bonito de assistir, e isso é o que eu, além de vários outros australianos, tenho feito nesses últimos dias. Tempestades dessas durante o dia não têm graça, mas à noite o céu vira uma discoteca, onde os efeitos sonoros ficam por conta dos trovões e o visual por conta dos raios. Você olha para o céu e vê literalmente um show de luzes, com diversos raios sendo lançados em questões de segundos.

Outro ponto interessante diz respeito à infra-estrutura. Houveram sim, vários casos de casas e postes destruídos, mas apesar disso, a infra-estrutura básica sustentou muito bem o volume de vento, água e raios. Após uma tempestade como esta, em Fortaleza, por exemplo, o caos ficaria instaurado, com ruas alagadas, bueiros transbordando, crateras nas ruas, pessoas desabrigadas etc. Aqui, as más notícias só foram vistas por mim nos noticiários, fora isso a cidade parecia estar seguindo o seu curso normal. A previsão diz que virão tempestades mais fortes adiante, espero que nossa infra continue agüentando firme.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O maior desafio somos nós mesmos

Quando passamos por uma mudança como essa, notamos que existem alguns fatores que asseguram a sua adaptação e o estabelecimento da sua nova vida. Além dos elementos que suportam diretamente a saúde, educação e segurança da sua família, tais como um bom emprego, moradia, um bom colégio para seus filhos, etc. um dos fatores que têm papel fundamental nesse processo são as pessoas.

Não estou falando aqui dos membros da família (esposa e filhos), mas sim das pessoas com o qual você convive no seu dia-a-dia, seja no ambiente de trabalho ou pessoal. O interessante desse ponto de vista é que, muitas vezes a ajuda vem de pessoas que você mal conhece, ou que, embora conheça, não faziam parte de sua vida há alguns meses atrás.

Acredito que não preciso citar aqui que o apoio da família e das pessoas que o amam é indispensável. Até hoje me impressiono quando falo com meus pais e os ouço dizer para continuar batalhando por aqui. Será que um dia terei coragem de falar o mesmo para os meus filhos, em vez de implorar que eles voltem para baixo das asinhas do papai?

Ao chegar num lugar desconhecido, por mais auto-suficiente que você seja, em algum momento você cai na realidade e vê que é preciso se inserir em algum tipo de contexto. O mais natural nessa hora é você buscar aquele no qual está mais acostumado, ou seja, o contexto dos brasileiros. Não sei se pela barreira do inglês, que não permite que você tenha a mesma espontaneidade que tem com o português, ou se por própria afinidade mesmo, mas as pessoas que mais nos apegamos aqui são brasileiras.

É muito bom estar perto de pessoas que estão passando ou já passaram aquilo que você está vivenciando. É como nascesse na relação uma sensação de parceria, no qual todos estão no mesmo barco, ajudando e sendo ajudados. Quando percebemos, nos vemos quebrando todas as barreiras e receios que tínhamos no Brasil. Trata-se de solidariedade pura, e como em toda relação, que gira em torno de interesses, nestes casos, notamos sempre a presença de interesses saudáveis. Vejo pessoas nos ajudando pelo simples fato de terem sido ajudadas no passado, gerando assim um ciclo de colaboração.

Num clima desses não podíamos deixar de encontrar pessoas que nos tocam, que nos fazem sentir completamente a vontade, mesmo as conhecendo há tão pouco tempo. Essa experiência começa a mostrar então outros lados positivos, lados que estavam estagnados há bastante tempo, num ambiente no qual já tínhamos certo conforto sobre nossas relações e estrutura emocional.

As condições básicas para um estrangeiro se estabelecer na Austrália já são dadas. Moro hoje num país que vivencia uma economia de pleno emprego (com taxa de desemprego entre três e 4%), com uma excelente distribuição de renda, com um ótimo sistema de saúde e ensino públicos, com um governo que atua ativamente em prol do cidadão, etc. Se essas condições básicas já são dadas, cabe a você então romper suas barreiras e limitações para se inserir no mercado de trabalho e no contexto social. Se você conseguir superar ambos os desafios, sua chance de ter sucesso na mudança se eleva consideravelmente.