domingo, 21 de dezembro de 2008

Sirenes! Ambulância? Não, polícia

Morar aqui na Austrália às vezes é entediante, são raros os momentos em que sentimos a adrenalina sendo jorrada em nosso sangue. Não que essa mudança seja sem emoções, mas a adrenalina que me refiro aqui é a adrenalina negativa, do medo, da violência. Por quase oito meses ouço constantemente o barulho de sirenes ecoando pela cidade, e em todas as vezes que estico o pescoço buscando por uma perseguição policial, me frustro. Nunca vi um lugar para ter tanta gente precisando de ambulância e bombeiros! Todos os dias ouço sirenes por pelo menos duas vezes, e sempre que olho pela janela pensando: “será minha primeira perseguição policial?”, me deparo com um caminhão de bombeiros ou ambulância passando por mim.

Dos últimos quatro dias, por duas noites, presenciei perseguições policiais. Uma delas, com o envolvimento de diversos carros de polícia, pelo menos dez. Passei esses dias em Sydney, e tive que vir para cá para finalmente ver coisas desse tipo acontecendo. Não que Sydney seja uma cidade violenta, mas sem dúvidas ela já possui algumas mazelas de uma cidade grande. O resultado dessa experiência? A percepção que fiz a escolha certa ao optar por morar em Brisbane.

De uma forma ou de outra, ao vir para Sydney pela terceira vez, criei a expectativa que ficaria tentado em mudar para cá, e isso não aconteceu. Depois de oito meses morando em Brisbane, ao chegar aqui, notei que algumas coisas pareceram estranhas para mim. Vi poucos pontos que Sydney realmente agrega sobre Brisbane e, para ser mais exato, vejo três vantagens de morar lá (seguindo a ordem de importância): O fato de estar no litoral, o mercado de trabalho, e a vida noturna / cultural.

Morar na praia é sem dúvida algo de peso para mim, vou à praia com freqüência, e passar uma hora no carro para curtir um dia na praia incomoda. O mercado de trabalho é algo que considero neutro, pelo menos por agora, que estou satisfeito com meu trabalho e planejando ficar lá por um tempo. Já a terceira vantagem é praticamente indiferente, pois são raros os momentos que saio para curtir à noite. Esse ponto só merece destaque, pois ele pode agregar justamente naquele dia que você está procurando algo diferente para fazer. Nesse caso, Sydney sempre lhe oferecerá uma opção.

Por outro lado, nesses quatro dias me deparei com mendigos, um clima diferente (com frio de dezesseis graus em pleno verão), gente mijando no meio da rua, uma mãe dando cerveja para um bebê de colo, sujeira (se comparado à Brisbane, não ao Brasil), um sistema de transporte público mais complexo e caro, motocicletas acorrentadas em postes para não serem roubadas, etc.

Não que nada disso não fizesse parte da minha realidade quando eu estava no Brasil, mas acho que após esse tempo morando em Brisbane, me acostumei com a organização e simplicidade que a cidade oferece. Em Sydney tive a mesma sensação que tinha quando eu saía de Fortaleza para passar uns dias em São Paulo, no qual por um lado você se encanta com o que a cidade oferece, e do outro você não consegue se imaginar morando lá. Isso quer dizer que morar em Sydney é uma opção descartada? Claro que não! Assim como quando eu estava no Brasil, nunca desconsiderei a possibilidade de morar em São Paulo, aqui também não seria diferente. Mas acho que a única coisa que faria com que isso acontecesse seria a existência de uma oportunidade única, que oferecesse algo que eu realmente não conseguiria alcançar em Brisbane.

sábado, 22 de novembro de 2008

Nuvens negras adiante

Esta semana estamos passando por uma situação atípica. Nos últimos cinco dias tivemos três tempestades bem fortes. O saldo disso são centenas de casas com telhados arrancados, mais de 230 mil residências sem energia e cerca de 14.500 acionamentos de seguro, estimados em 125 milhões de dólares australianos.

O primeiro dia de tempestade foi no domingo, estávamos na estrada retornando de uma viagem. Estava um dia parcialmente nublado com algumas nuvens negras no céu. Em questão de minutos fomos surpreendidos por uma imensa camada de nuvens, com muita chuva, raios e ventos extremamente fortes, parecia coisa de filme. Paramos o carro e aguardamos por cerca de 40 minutos, pois não havia como dirigir naquelas condições, e ficamos então assistindo o espetáculo

Para minha surpresa, quando chegei ao trabalho na segunda-feira e abri os sites de notícia, me deparei com a seguinte manchete: “Queensland tem sua pior tempestade em 25 anos”. O assustador é que a conclusão não foi dada pelo volume da chuva, mas sim pelo nível de destruição causado (calculado pela ENERGEX empresa de energia do Estado). A cena se repetiu novamente na noite de quarta e quinta-feira, causando dessa vez novos estragos à região. A tempestade de ontem, por exemplo, teve mais de 3000 raios e ventos de 90 km/h.

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O interessante de passar por uma tempestade como essa na Austrália, é notar as diferenças entre o que vivenciamos aqui contra o que víamos no Brasil. Aqui temos tempestades de raios, literalmente falando. Vi mais raios nesse último mês do que em toda a minha vida no Brasil. Chega a ser bonito de assistir, e isso é o que eu, além de vários outros australianos, tenho feito nesses últimos dias. Tempestades dessas durante o dia não têm graça, mas à noite o céu vira uma discoteca, onde os efeitos sonoros ficam por conta dos trovões e o visual por conta dos raios. Você olha para o céu e vê literalmente um show de luzes, com diversos raios sendo lançados em questões de segundos.

Outro ponto interessante diz respeito à infra-estrutura. Houveram sim, vários casos de casas e postes destruídos, mas apesar disso, a infra-estrutura básica sustentou muito bem o volume de vento, água e raios. Após uma tempestade como esta, em Fortaleza, por exemplo, o caos ficaria instaurado, com ruas alagadas, bueiros transbordando, crateras nas ruas, pessoas desabrigadas etc. Aqui, as más notícias só foram vistas por mim nos noticiários, fora isso a cidade parecia estar seguindo o seu curso normal. A previsão diz que virão tempestades mais fortes adiante, espero que nossa infra continue agüentando firme.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O maior desafio somos nós mesmos

Quando passamos por uma mudança como essa, notamos que existem alguns fatores que asseguram a sua adaptação e o estabelecimento da sua nova vida. Além dos elementos que suportam diretamente a saúde, educação e segurança da sua família, tais como um bom emprego, moradia, um bom colégio para seus filhos, etc. um dos fatores que têm papel fundamental nesse processo são as pessoas.

Não estou falando aqui dos membros da família (esposa e filhos), mas sim das pessoas com o qual você convive no seu dia-a-dia, seja no ambiente de trabalho ou pessoal. O interessante desse ponto de vista é que, muitas vezes a ajuda vem de pessoas que você mal conhece, ou que, embora conheça, não faziam parte de sua vida há alguns meses atrás.

Acredito que não preciso citar aqui que o apoio da família e das pessoas que o amam é indispensável. Até hoje me impressiono quando falo com meus pais e os ouço dizer para continuar batalhando por aqui. Será que um dia terei coragem de falar o mesmo para os meus filhos, em vez de implorar que eles voltem para baixo das asinhas do papai?

Ao chegar num lugar desconhecido, por mais auto-suficiente que você seja, em algum momento você cai na realidade e vê que é preciso se inserir em algum tipo de contexto. O mais natural nessa hora é você buscar aquele no qual está mais acostumado, ou seja, o contexto dos brasileiros. Não sei se pela barreira do inglês, que não permite que você tenha a mesma espontaneidade que tem com o português, ou se por própria afinidade mesmo, mas as pessoas que mais nos apegamos aqui são brasileiras.

É muito bom estar perto de pessoas que estão passando ou já passaram aquilo que você está vivenciando. É como nascesse na relação uma sensação de parceria, no qual todos estão no mesmo barco, ajudando e sendo ajudados. Quando percebemos, nos vemos quebrando todas as barreiras e receios que tínhamos no Brasil. Trata-se de solidariedade pura, e como em toda relação, que gira em torno de interesses, nestes casos, notamos sempre a presença de interesses saudáveis. Vejo pessoas nos ajudando pelo simples fato de terem sido ajudadas no passado, gerando assim um ciclo de colaboração.

Num clima desses não podíamos deixar de encontrar pessoas que nos tocam, que nos fazem sentir completamente a vontade, mesmo as conhecendo há tão pouco tempo. Essa experiência começa a mostrar então outros lados positivos, lados que estavam estagnados há bastante tempo, num ambiente no qual já tínhamos certo conforto sobre nossas relações e estrutura emocional.

As condições básicas para um estrangeiro se estabelecer na Austrália já são dadas. Moro hoje num país que vivencia uma economia de pleno emprego (com taxa de desemprego entre três e 4%), com uma excelente distribuição de renda, com um ótimo sistema de saúde e ensino públicos, com um governo que atua ativamente em prol do cidadão, etc. Se essas condições básicas já são dadas, cabe a você então romper suas barreiras e limitações para se inserir no mercado de trabalho e no contexto social. Se você conseguir superar ambos os desafios, sua chance de ter sucesso na mudança se eleva consideravelmente.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Refund

Desde que cheguei à Austrália venho percebendo o respeito que os australianos têm com as pessoas, mas o que me chama mais atenção é o respeito com o consumidor.

Já tive vários problemas para trocar mercadoria no Brasil, era sempre um desgaste sem fim!

Aqui na Austrália é completamente diferente, até mesmo sem a nota fiscal você consegue trocar o produto, seja ele por defeito ou simplesmente por ter se arrependido da compra.

O mais interessante é que você não precisa trocar a mercadoria por outra, basta simplesmente solicitar o dinheiro de volta, acho isso fantástico! Principalmente para as compulsivas em compras de plantão!

Já imaginou comprar um monte de roupa, chegar em casa, provar tudo e se arrepender de ter comprado algumas peças? É só voltar na loja e solicitar o dinheiro de volta. O lado negativo é seu marido exigir que você devolva "tudo" que você comprou!

Outro dia comprei um par de óculos escuro, andando mais um pouco no shopping, encontrei outro que me agradou mais, retornei a loja anterior e solicitei o “refund”, simples assim!

O nosso primeiro “refund” aconteceu logo que chegamos aqui, ficamos até confusos, sem entender o que estava acontecendo. Como assim? Devolver o dinheiro? O Eduardo havia comprado uma cama box e ela simplesmente não teve como entrar no nosso quarto, pois não passou na escada, só conseguimos subir com o colchão. Ao retornarmos para a loja para tratar da troca da cama a atendente simplesmente devolveu o dinheiro, sem nem precisarmos explicar o ocorrido. Detalhe, a cama ainda estava na nossa casa! E lá ficou por uma semana, eles devolveram o dinheiro sem nem termos devolvido o produto!

Outra coisa interessante é, se você chegar em casa e perceber que o preço da mercadoria foi cobrado indevidamente a maior, você volta na loja e eles lhe dão o produto de graça.

Por um lado, há esse imenso respeito pelo seu direito de desistir da compra, pelo outro, temos que lidar com algumas situações constrangedoras. O exemplo mais típico disso é o fato de eles considerarem normal revistar sua bolsa quando você sai de uma loja. Na primeira vez fiquei até assustada e muito chateada, achei logo que era preconceito com imigrante, mas com o tempo fui percebendo que é regra e vale para todos, independente de imigrantes ou australianos, inclusive há avisos nas portas das lojas.

Noto um certo constrangimento por parte dos funcionários com esse tipo de procedimento, mas se é regra, tem que ser cumprida.

Acredito que há um motivo para isso, você como consumidor tem direito a ir e vir com seus produtos, por exemplo, faço compras em uma loja, às vezes nem coloco em sacos plásticos (consciência com o meio ambiente, muito comum por aqui), e saio com esse produtos soltos, sem nenhuma embalagem, em um carrinho pelo shopping, podendo entrar em outras lojas sem nenhuma restrição e fazer mais compras, e assim por diante. O máximo que eles solicitam é uma olhada rápida no cupom fiscal das compras anteriores, e claro, a revista na sua bolsa.

Nada mais justo fazer valer essa regra!

domingo, 19 de outubro de 2008

Índice de prosperidade mundial

Essa semana foi divulgado o resultado de um estudo que identifica o nível de prosperidade de 104 países. Diferentemente da maioria dos estudos de qualidade de vida, que definem o resultado de cada país através de indicadores tangíveis como renda, saúde, educação, segurança, etc. esse estudo se diferencia em três formas:

Primeiro porque, segundo eles, a prosperidade é reimagesultado não só da riqueza, mas também da satisfação com a vida. Isto é, para eles, saber que determinado país possui ensino de qualidade não é suficiente, o que importa é que o ensino seja de qualidade e acessível a todos. Devido a essa abordagem, além dos indicadores padrão, vemos índices interessantes, tais como: tempo para lazer, vida em família e comunidade, liberdade de escolha, ambiente agradável, etc.

Segundo a Legatum, instituição responsável pela realização do estudo, essa abordagem tem como diferencial a demonstração das causas da prosperidade, e não os seus resultados. A partir da elaboração de uma visão mais holística de cada país, o estudo consegue evidenciar os fatores que promovem a competitividade econômica e a habitabilidade de cada país, demonstrando assim, as forças e restrições de cada um, e sua conseqüente condição de prosperar.

Além disso, o estudo demonstra claramente que tanto o governo como os indivíduos, são diretamente responsáveis por promover a prosperidade. O estudo evidencia que o governo por si só não consegue criar ou direcionar a prosperidade, mas sim encorajá-la através de políticas bem estruturadas. Os indivíduos por sua vez, têm o papel de assumir responsabilidades pela busca de desafios e oportunidades, que, acompanhadas pela liberdade de escolha, proporcionam a prosperidade nacional.

O interessante desse estudo para nós imigrantes, não é saber que a Austrália foi honrada com a primeira colocação, mas sim evidenciar um dos motivos que faz com que famílias como a minha, tenham que se mudar para o outro lado do mundo na busca de uma nova vida. O gráfico abaixo demonstra uma comparação entre os resultados do Brasil e Austrália:

prosperidade au vs br

É curioso observarmos os contrastes dos resultados alcançados pelos dois países. O mais interessante ainda, é ler esse gráfico e visualizar com bastante facilidade, tudo aquilo que viemos buscar contra o que nos fez partir. De um lado vemos a Austrália com excelente nível de governança, capital investido, inovação, educação e renda, de outro vemos o Brasil no negativo. Além disso, notamos que, para quem como nós, valoriza itens como vida em família, tempo para lazer, ambiente agradável, etc. a Australia se apresenta como um país bem mais adequado para se viver que o Brasil, visto o nossos péssimos resultados nessas áreas.

Notem, o propósito deste post não é falar mal do Brasil, mas sim trazer uma visão analítica dos motivos que levam nosso país a perder a série de jovens talentos que tem perdido. Ao contrário do que muitos devem pensar, o perfil dos brasileiros que moram aqui como residentes permanentes, não é o de fracassados que não conseguiam manter uma boa vida no Brasil. A maioria dos que estão aqui, não só tinham uma excelente condição em nosso país, como também vieram muito bem estruturados para montar uma nova vida por aqui.

Infelizmente, hoje no Brasil, nem governo nem indivíduos estão cumprindo o seu papel. De um lado vemos poucos tentando lutar e fazer a diferença através da mudança de conceitos e exemplos. Do outro vemos os que foram ou estão indo embora, não por não amar o seu país, mas por terem outras motivações, como no meu caso, a criação dos meus filhos. Nessa hora ponderamos o nosso patriotismo contra nossos valores e amor pelos nossos filhos, eu fiquei com a segunda opção.

Para mais informações sobre o estudo visite: http://www.prosperity.com/ranking.aspx

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Ser pai é padecer no paraíso

Uma das tarefas mais difíceis dessa mudança esta sendo lidar com a adaptação da Ana Carolina. Como toda adolescente, ela está numa fase muito difícil. A adolescência por si só já seria difícil se estivéssemos no Brasil, imagine aqui depois dela perder tudo o que é mais valorizado por um adolescente, sua turma de amigos.

Como todo pai, vejo essa fase como desafiadora não só para o filho, mas também para nós. Nesse período que se estende por anos, vivemos constantemente entre a linha da rebeldia e sua capacidade de discordar e questionar tudo, e a da formação da personalidade. Nessa hora é comum ouvirmos coisas como "a vida é minha e eu faço dela o que eu quiser" para depois de cinco minutos ouvir "Duda, me dá dinheiro para eu ir ao shopping?". Por um lado os adolescentes já estão se firmando e "sabem" muito bem cuidar de suas vidas sozinhos, pelo outro, eles não vão a esquina sem precisar de você.

Ser pai é tentar ponderar ao máximo esse momento, pois ao mesmo tempo não podemos inibir essa vontade deles buscarem a sua independência, mas também não podemos negligenciar a direção para qual essa "independência" os está levando. Cada pai nessa hora adota a sua estratégia para assegurar que essa direção não seja apontada diretamente para "lado negro da força", eu, particularmente, tento seguir a linha da relação aberta e da reflexão. Faço isso por reconhecer que, infelizmente (ou felizmente), os pais são só um dos vários elementos que influencia o desenvolvimento dos filhos, e com essa abordagem eu espero que, caso eles resolvam adotar um conselho, que isso aconteça por escolha e não por ordem ou intimidação.

Apesar difícil, pois não há nada pior que ver seu filho sofrendo, essa fase está tendo seus pontos positivos. Assim como em todo momento de crise, é nessa hora de pararmos, avaliarmos nossa situação e refletimos sobre as oportunidades de image crescimento que crise proporciona. Se estivéssemos no Brasil, provavelmente não teríamos tido uma série de reflexões e conversas que tivemos até agora. Não tenho dúvidas que ao final todos terão ganhado muito com isso, e, enquanto isso não acontece, continuarei aqui aprendendo com meus filhos e curtindo este grande desafio de ser pai.

Como minha mãe dizia: “Ser mãe é padecer no paraíso...”

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Escola na Austrália

Matricular as crianças na escola foi muito simples, apenas apresentamos os passaportes, pagamos uma taxa, compramos os uniformes e o material escolar (os livros são subsidiados pelo governo), e no dia seguinte as crianças começaram a estudar. A escola do seu bairro é obrigada a aceitar a matrícula dos seus filhos.

No primeiro dia de aula notamos uma grande receptividade por parte dos alunos, principalmente os da idade da Ana Carolina, eles já são acostumados com alunos estrangeiros, pois a escola tem cerca de 90 alunos de outros países.

Conversamos rapidamente com os futuros professores e   IMG_8846  fomos embora! Já no primeiro dia deixamos os coitados na escola sem falarem uma palavra de inglês, foi de partir o coração, mas não tinha outro jeito, a própria professora recomendou que não ficássemos. E estão lá até hoje, no início o Caio reclamava que as crianças não queriam brincar com ele, me dava tanta pena, um dia pedi para o Eduardo passar por lá e conversar com a professora, aproveitando para dar uma olhada de como ele estava indo, e para minha tranqüilidade, ele estava bem, entrosado com os amigos.

De vez em quando ele reclama de alguma criança que bateu nele, semana passada, por exemplo, cheguei ao colégio e ele veio chorando até mim, dizendo que um garoto havia enforcado ele, sem motivo algum, sempre o mesmo pentelho!!! Minha vontade era de esgIMG_8845anar esse menino, mas me contentei em apenas reclamar com a professora, pois não é justo, ele não tem como se defender porque não fala inglês, e não mudamos para o outro lado do mundo para o Caio ficar apanhando na escola, não mesmo! Conversei sério com a professora e expus todos os meus sentimentos.

A Ana Carolina reclama até hoje que as meninas da sala dela são muito infantis, elas são bem menos maduras que as meninas do Brasil, isso é verdade! Mas para mim, isso é muito positivo! Aqui as garotas só saem de casa à noite após os 18 anos, não tem essa estória de ir para boate com 12 anos de idade como no Brasil. Um dia perguntei a uma amiga dela o que elas faziam no final de semana, e a resposta foi: igreja, supermercado com a mãe e treino de natação. É mole?

O sistema de IMG_8850ensino é muito diferente do sistema do Brasil, a criança é preparada para se tornar um cidadão e não passar no vestibular. Podemos notar que as matérias abordam mais temas do cotidiano. As aulas de matemática, por exemplo, traz mais assuntos voltados a aplicabilidade e permitem o uso de calculadora para alguns temas. Semana passada, por exemplo, a Ana Carolina perdeu boa parte da semana abordando o tema do desmatamento da floresta Amazônica, tendo que fazer no final um artigo e uma apresentação sobre o tema.

Algumas vezes por semana uma professora do programa  ESL - English as a Second Laguage                                                            http://education.qld.gov.au/marketing/eqi/programs/schools_list.html ensina inglês só para alunos estrangeiros. São aulas voltadas para o desenvolvimento do vocabulário e regras básicas, não vista no programa dos alunos regulares (uma vez que eles já conhecem a língua).

A escola é muito rigorosa com relação ao uniforme escolar, não é permitido o uso de brincos, anéis, unhas pintadas e cabelo solto, o chapéu é obrigatório, devido à exposição ao sol, aqui eles são muito preocupados com essa questão. Celular então, nem entra no colégio. Você pode até levar, mas você tem que deixar na Administração quando chega e só pode pegá-lo ao final da aula.

A escola é dividida em:

- JUNIOR SCHOOL (Prep to Year 5) – 5 aos 10 anos de idade

- MIDDLE SCHOOL (Years 6 to Year 9) – 11 aos 14 anos de idade

- SENIOR SCHOOL (Years 10, 11 and 12) – 15 aos 17 anos de idade

O período letivo é dividido em quatro termos e entre eles as férias escolares, ou seja, aqui temos quatro férias por ano, sendo: 10 dias entre março e abril, 15 dias entre junho e julho, 15 dias em setembro e um mês e meio entre dezembro e janeiro.

É uma forma interessante de dividir o problema de onde deixar as crianças nesse período por quatro. Aqui não temos empregada e nem família por perto, o jeito é recorrer às colônias de férias, que não são nada baratas, chegando a AUD 30.00 por dia. Até agora não precisei recorrer a elas, pois como não estou trabalhando posso ficar com eles nesse período de recesso.

Esse é o site da nossa escola: http://whiteshillsc.eq.edu.au/wcmss/

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Para Maria da Graça

Por: Paulo Mendes Campos

Agora que chegaste à idade avançada de 15 anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice no país das Maravilhas.

Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti.

Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade.

A realidade, Maria, é louca.

Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: “Fala a verdade, Dinah, já comeste um morcego?”.

Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. “Quem sou eu no mundo?” Essa indagação perplexa é o lugar comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.

A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: “Estou tão cansada de estar aqui sozinha!” O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada, e vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.

Somos todos bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo, e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontec e, geralmente, às pessoas que comem bolo.

Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave.

A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: “Oh, I beg your pardon!” Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo, para a tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: “Gostarias de gatos se fosses eu? “.

Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namoradas, todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos que, quando os atletas chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: “A corrida terminou! Mas quem ganhou?” É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não irá saber quem venceu. Se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre aonde quiseres, ganhastes.

Disse o ratinho: “Minha história é longa e triste!” Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: “Minha vida daria um romance”. Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois o romance é só o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energicamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: “Minha vida daria um romance!” Sobretudo dos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.

Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mais devagar, muito devagar. Quero dizer seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: “Devo estar diminuindo de novo”. Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente.

E escuta esta parábola perfeita: Alice tinha diminuído tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte: É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e de rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e o grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom humor.

Toda pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para as grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.

Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de terchorado um lago, pensava: “Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas”.

Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça.

sábado, 11 de outubro de 2008

Seis meses de Austrália

Sexta feira, cinco horas da tarde, estou no ponto de ônibus esperando meu transporte para casa, ouvindo Viva lá Vida do Coldplay e jogando Paciência no meu Iphone. Apóimages seis meses de Australia você cai na rotina e começa a esquecer os motivos que o trouxeram para o outro lado do mundo. Por um instante tudo aquilo que você veio buscar não é mais novidade, agora é realidade e é nesse momento que você percebe que está integrado ao novo sistema.

Pensem no cenário: Eu, Eduardo Bindi, às cinco horas de uma sexta feira, parado num ponto de ônibus, esperando condução para ir para casa, com um Iphone na mão em pleno centro da cidade. OK? Agora mude o tempo para seis meses atrás e o lugar para o centro de Fortaleza. Quais dessas condições seriam realidade? Nenhuma!


Primeiro porque eu não estaria voltando às cinco da tarde para casa, o trabalho no Brasil nunca terminava antes das seis, seis e imagemeia.  Segundo porque não estaria voltando de ônibus, coisa impraticável em qualquer cidade brasileira, seja pelo caos do transporte público, seja pela falta de segurança. E finalmente, eu poderia estar até com um Iphone, mas ele estaria guardadinho no meu bolso e no modo silencioso, evitando assim exposições desnecessárias para o caso de ligações.

Essa mudança esta sendo marcada por momentos e fases, num primeiro momento você fica dormente, pois está ao mesmo tempo maravilhado e confuso. Não sei se por conta da diferença de fuso horário, que lhe deixa zonzo nos primeiros dias, ou se pela diferença do lugar, mas os primeiros dias são marcantes. Você está num novo local, tudo é diferente, você repara todos os detalhes, o jeito que as pessoas se vestem, os prédios, as ruas, as comidas, carros, etc. A impressão que você tem é que suas pupilas ficam dilatadas durante todos os segundos do dia, como se seu cérebro estivesse comandando seus olhos a não perderem nenhum detalhe, e não deixar passar nada despercebido.

Após esse primeiro baque, que dura alguns dias, você entra em lua-de-mel, onde tudo passa a ser maravilhoso. Você já começa a se familiarizar com o lugar e ao invés de ficar vidrado como nos primeiros dias, você começa a relaxar e curtir as diferenças e novidades. Nessa hora você não vê problema em nada, tudo é fácil, você não vê a hora de estar adaptado com tudo montado e pronto para dar seqüência a sua vida. Talvez esse seja um dos motivos de se estar em lua-de-mel. Como você está empenhado demais com as novidades e com a estruturação da sua nova vida, não há muito tempo para pensar, só fazer. Seu dia-a-dia fica totalmente preenchido com passeios, entrevistas de emprego, vistoria de casas para alugar, visitas aos órgãos do governo, etc.

Quando tudo está estruturado, emprego arrumado, casa montada, carro comprado, crianças matriculadas no colégio,você entra na terceira fase. Agora você começa a vivenciar a rotina dessa nova vida. Só que você começa a comparar essa rotina com a do Brasil, que você gastou anos para estruturar. Quando eu falo estruturar rotina, falo não só nas atividades do dia-a-dia, mas também dos programas de finais de semana, círculo de amizades, família, esportes, etc. Agora, você já se acostumou a abrir o seu laptop no meio da cidade sem ficar preocupado, você já houve seu filho de seis anos falar que voltou sozinho do colégio e não dá bola para o ocorrido, você já não lê mais diariamente as notícias de corrupção do seu país. Então você começa a comparar uma vida na qual os benefícios você já se acostumou, com a falta da sua família e amigos, com a sua insignificância no emprego que você acabou de arrumar, e com as inseguranças que uma mudança desse tipo traz.

Mal vindo a fase quatro! Quem disse que mudar para o outro lado do mundo é fácil? De fácil não tem nada, pelo contrário! Quando a saudade bate, ela bate forte, e é ai que você se vê triste por uma semana, duas, um mês! E o pior de tudo é que você está triste e não sabe o porquê. Todos os dias você acorda angustiado e como não consegue ver problemas nem ninguém para colocar a culpa, o que seria a saída mais fácil, você começa então a expor e visualizar suas próprias vulnerabilidades, que nem sempre são fáceis de serem encaradas. Antes eu estivesse no Brasil, aí pelo menos eu poderia colocar a culpa no Lula.

O mais importante nessa hora é saber que essa fase passa. Pode até demorar, mas passa. Como todo momento, em que a emoção está falando mais alto que a razão, essa hora não é o momento de decidir nada, de planejar nada nem de avaliar sua decisão de emigrar para outro país. Nessa hora você só tem que procurar o que fazer, manter-se ocupado e dar tempo ao tempo. Quando você vê, as coisas começam a se encaixar melhor, seu tempo está preenchido e você começa a produzir mais.

Quando você percebe, você está parado num ponto de ônibus, às cinco da tarde de uma sexta-feira, brincando com seu Iphone e totalmente envolvido com sua nova realidade, com sua nova vida, e construindo sua nova história.

Será que isso representa a fase final do processo de adaptação?

Uma coisa é certa, ainda é muito cedo para dizer se essa história continua sem grandes emoções ou se ainda existirão outras fases até o processo de adaptação estar concluído.

Adaptação

Nesses quase quatro meses de Austrália que mais parecem quatro anos, posso afirmar que a adaptação não é fácil.

No início foi tudo novidade, arrumando a casa nova, comprando (o que sei fazer de melhor!), conhecendo lugares novos, depois veio a rotina de dona de casa e estudante de inglês, depois o vazio.

Comecei a me enclausurar numa bolha, tinha medo de dirigir, achava que meu inglês não era bom, engordei, não gostava de ser dona de casa, e a cada dia ficava mais dependente do Eduardo, isso me incomodava muito, pois costumava ter uma vida completamente diferente no Brasil.

Nessa hora, por incrível que pareça são as pessoas que estão distantes fisicamente, mas muito próximas mentalmente, que nos dão o maior apoio. São elas que nos mantêm com o pé no chão e nos incentivam a continuar na busca do nosso sonho. São mensagens como essas que nos fazem refletir sobre nossa real posição:

“Oi Duda

A Ana Paula escreveu esses dias pra Marie falando sobre as saudades que vocês estão sentindo daqui... Tenho algumas coisas a dizer para animar vocês!
O Lula está querendo criar mais uma estatal maior que a Petrobrás para explorar o petróleo do pré-sal. O ato heróico do delegado Protógenes Queiroz que prendeu no mesmo dia o Daniel Dantas, o Pitta e o Naji Nahas, no qual foi descoberto o extravio de 3 BI para paraísos fiscais, hoje é visto por todas autoridades brasileiras e imprensa como um ato desnecessário e inconstitucional. Acho que você está acompanhando as olimpíadas... que vergonha! Por causa do fuso horário, só acompanhamos os resultados através dos noticiários. É ridículo ver os apresentadores vendendo a audiência desse evento ao apresentar com entusiasmo o décimo segundo lugar da Jade ou nossa imensa lista de quatro ou cinco medalhas de bronze...
De repente me senti na obrigação de lembrar vocês como é difícil conviver com o dia a dia da nossa realidade. A degradação de nossa auto estima é inevitável. Ultimamente ando colocando em questão o sentido da vida. Afinal, criamos nosso mundo. Enxergamos a vida sobre uma ótica individual, que é o resultado do que mundo nos apresenta e o que acreditamos. Ultimamente está muito difícil tirar um saldo positivo disso.
Minhas forças, meu entusiasmo vem do amor às minhas filhas e minha família. Esse é o filtro que me possibilita enxergar a vida com um pouco mais de felicidade e cor. O engraçado, é que quando recebo informações sobre a saudade de vocês, enxergo as mesmas fontes de energia. Porém, o ambiente onde vocês vivem não está degradado. Não desestimula. Não corrói as esperanças. Não dá medo. É mais fácil obter um saldo positivo nesse contexto.
Todos sabemos que vocês foram para o outro lado do mundo para dar uma oportunidade melhor às crianças. Então, não se esqueça de olhá-los realizando pequenos atos de cidadania e educação que o primeiro mundo lhe oferece. Não deixe de valorizar isso. Ter uma casa decente, um carro velho que não quebra, um vizinho que te respeita, uma cidade limpa, organizada e com instituições que funcionam.
Veja que nos acostumamos muito rápido com esse tipo de contexto e, talvez, tudo isso deixe de ser importante rapidamente quando comparado a nossa ausência. Mas são esses pequenos detalhes que compõem o cenário de suas vidas. É através dele que as crianças desenvolverão valores que a educação familiar não ensina. Estamos falando de justiça social e comunitária. É através dela que enxergamos valor em bons atos e resultado de nosso trabalho. Afinal, trabalhamos para nos sustentar ou desenvolver socialmente?
Também sentimos muito a sua falta meu irmão. Mas não se esqueça. O amor é o estímulo de nossas vidas. Por isso, enquanto vivermos, amaremos. Considere a saudade um sentimento positivo e bom. Garanto que é muito melhor que as frustrações que estamos sentindo por aqui.”

Paulo Bindi
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“Oi, norinha querida...quanta saudade!
Está tudo“'indo”?
Eu estou doida pra chegar ....ando percebendo vocês meio desanimados...Não pode, não!
Quantas pessoas no mundo podem vivenciar essa experiência? Aprender inglês 'in loco', conhecer bastante um outro país, outra cultura, e, o melhor de tudo, poder voltar a hora que quiser.
Mas uma coisa lhe digo, com a maior sinceridade do mundo, inclusive contrariando meu coração, não queira voltar agora não. Espere um pouco pra ver se acaba a podridão neste país...
A cada dia nos enojamos mais, a cada dia novas avalanches de políticos corruptos, de bandidos soltos... até o presidente do Supremo Tribunal Federal, pode?
Ah! Uma novidade: vão cercar o Parque do Cocó com uma grade de 2 metros de altura, grade essa solicitada pela própria PM porque não estão dando conta dos assaltos lá dentro, pode?
E a nossa liberdade de ir e vir, de usufruir da nossa natureza...
O Paulo tem um cliente português que disse que lá na terrinha também a corrupção andava solta, mas que a coisa melhorou quando começou a chegar ao poder a nova geração, então parece que o Brasil tem jeito. É só esperar um pouco.
Acho que é a sensação de 'gringos' que incomoda, não é?
Curtam essa oportunidade, aproveitem a experiência que só fará engrandecer vocês para uma vida futura aqui ou aí. O tempo passa mais rápido que possamos imaginar...”

Mariangela Bindi

Cheguei a passar uma semana realmente difícil, acordei um dia e disse para mim mesma que a partir daquele dia tudo ia ser diferente, é como se a ficha tivesse caído naquele momento, acordei para vida, me lembrei de todos os motivos que me levaram à Austrália e tudo de maravilhoso que esse país tinha a me oferecer.

A partir desse momento comecei a dirigir para todo lugar (claro, com a ajuda do GPS), a conversar com todo mundo, (como um passe de mágica as pessoas começaram a me entender), a me expor o máximo possível, planejar todos os passeios, dieta, academia e me preparar para o primeiro emprego.

Hoje posso dizer que estou muito feliz. O preço é alto, mas vale a pena pagá-lo!

Para os que estão vindo, que venham com o coração e a mente abertos e com disposição para grandes mudanças.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A Lua que não te dei

Como todos já puderam perceber, já há algum tempo não vinha postando novos textos. Hoje, ao receber o texto abaixo, notei o quão tola havia sido a minha decisão de ficar um tempo sem escrever. Não que eu tenha a capacidade de fazer isso, mas ter a possibilidade de tocar as pessoas como o Cecílio me tocou, já foi suficiente para me inspirar. Enquanto eu não trago nenhuma novidade, fiquem com a beleza de "A Lua que não te dei".

 

Por: Cecílio Elias Netto

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Compreendo pais - e me encanto com eles - que desejariam dar o mundo de presente aos filhos. E, no entanto, abomino os que, a cada fim de semana, dão tudo o que filhos lhes pedem nos shoppings onde exercitam arremedos de paternidade. E não há paradoxo nisso. Dar o mundo é sentir-se um pouco como Deus, que é essa a condição de um pai. Dar futilidades como barganha de amor é, penso eu, renunciar ao sagrado.

Volto a narrar, por me parecer apropriado à croniqueta, o que me aconteceu ao ser pai pela primeira vez. Lá se vão, pois, 45 anos. Deslumbrado de paixão, eu olhava a menina no berço, via-a sugando os seios da mãe, esperneando na banheira, dormindo como anjo de carne. E, então, eu me prometia, prometendo-lhe: 'Dar-lhe-ei o mundo, meu amor.' E não lho dei. E foi o que me salvou do egoísmo, da tola pretensão e da estupidez de confundir valores materiais com morais e espirituais.

Não dei o mundo à minha filha, mas ela quis a Lua. E não me esqueço de como ela pediu, a Lua, há anos já tão distantes. Eu a carregava nos braços, pequenina e apenas balbuciante, andando na calçada de nosso quarteirão, em tempos mais amenos, quando as pessoas conversavam às portas das casas. Com ela junto ao peito, sentia-me o mais feliz homem do mundo, andando, cantarolando cantigas de ninar em plena calçada. Pois é a plenitude da felicidade um homem jovem poder carregar um filho como se acariciando as próprias entranhas. Minha filha era eu e eu era ela. Um pai é, sim, um pequeno Deus, o criador. E seu filho, a criatura bem amada.

E foi, então, que conheci a impotência e os limites humanos. Pois a filhinha - a quem eu prometera o mundo - ergueu os bracinhos para o alto e começou a quase gritar, assanhada, deslumbrada: 'Dá, dá, dá...' Ela descobrira a Lua e a queria para si, como ursinho de pelúcia, uma luminosa bola de brincar. Diante da magia do céu enfeitado de estrelas e de luar, minha filha me pediu a Lua e eu não lha pude dar.

A certeza de meus limites permitiu, porém, criar um pacto entre pai e filhos: se eles quisessem o impossível, fossem em busca dele. Eu lhes dera a vida, asas de voar, diretrizes, crença no amor e, portanto, estímulo aos grandes sonhos. E o sonho da primogênita começou a acontecer, num simbolismo que, ainda hoje, me amolece o coração. Pois, ainda adolescente, lá se foi ela embora, querendo estudar no Exterior. Vi-a embarcar, a alma sangrando-me de saudade, a voz profética de Kalil Gibran em sussurros de consolo:

'Vossos filhos não são vossos filhos, mas são os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Eles vêm através de vós, mas não são de vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem. (...) Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.'

Foi o que vivi, quando o avião decolou, com minha criança a bordo. No céu, havia uma Lua enorme, imensa. A certeza da separação foi dilacerante. Minha filha fôra buscar a Lua que eu não lhe dera.

E eu precisava conviver com a coerência do que transmitira aos filhos: 'O lar não é o lugar de se ficar, mas para onde voltar.'

Que os filhos sejam preparados para irem-se, com a certeza de ter para onde voltar quando o cansaço, a derrota ou o desânimo inevitáveis lhes machucarem a alma. Ao ver o avião, como num filme de Spielberg, sombrear a Lua, levando-me a filha querida, o salgado das lágrimas se transformou em doçura de conforto com Kalil Gibran: como pai, não dando o mundo nem Lua aos filhos, me senti arqueiro e arco, arremessando a flecha viva em direção ao mistério.

Ora, mesmo sendo avós, temos, sim e ainda, filhos a criar, pois família é uma tribo em construção permanente. Pais envelhecem, filhos crescem, dão-nos netos e isso é a construção, o centro do mundo onde a obra da criação se renova sem nunca completar-se. De guerreiros que foram, pais se tornam pajés. E mães, curandeiras de alma e de corpo. É quando a tribo se fortalece com conselheiros, sábios que conhecem os mistérios da grande arquitetura familiar, com régua, esquadro, compasso e fio de prumo. E com palmatória moral para ensinar o óbvio: se o dever premia, o erro cobra.

Escrevo, pois, de angústias, acho que angústias de pajé, de índio velho. A nossa construção está ruindo, pois feita em areia movediça. É minúsculo o mundo que pais querem dar aos filhos: o dos shoppings. E não há mais crianças e adolescentes desejando a Lua como brinquedo ou como conquista. Sem sonhos, os tetos são baixos e o infinito pode ser comprado em lojas. Sem sonhos, não há necessidade de arqueiros arremessando flechas vivas.

Na construção familiar, temos erguido paredes. Mas, dentro delas, haverá gente de verdade?

Cecílio Elias Netto é escritor e jornalista.

E-mail: celiato@terra.com.br

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Temos hora para tudo na vida!

IMG_1831 Desde pequeno minha mãe sempre dizia: “Duda, tem hora para tudo na vida...”. Geralmente esse ensinamento vinha aliado a uma lição de moral por eu não estar fazendo meu dever de casa ou estudando como deveria. Por mais que geralmente esse sermão fosse orientado aos meus estudos, onde de vez em quando, infelizmente, eu tinha que abrir mão da brincadeira ou da farra para estudar, tenho levado esse ensinamento para praticamente tudo na vida.

Desde as coisas mais insignificantes ou rotineiras, às mais complexas, tudo tem o seu tempo para acontecer. Temos hora para nos alimentar, para trabalhar, para brincar com nossos filhos, para dar risadas com os amigos. Assim como também temos para ter filho, para mudar de país, para mudar de emprego. A seqüência de acontecimentos é um processo natural e cabe a nós segui-lo ou sofrer as conseqüências de não respeitá-lo.

Tenho um grande amigo que era polêmico por natureza, e com ele não poderia ser diferente: Rapha meu amigo, agora não era hora de nos deixar!

sábado, 5 de julho de 2008

Nova colaboradora

Olá pessoal,

A partir de hoje a Ana Paula também estará colaborando com o blog. Com sua ajuda poderemos trazer novos temas sobre essa nossa experiencia de vida aqui na Austrália.

Abraço!

Eduardo

Alimentação

Nessas duas semanas de Austrália percebi que temos muitas variedades de alimentos, atendendo a todos os gostos. Tanto temos variedade de alimentos saudáveis como de alimentos não-saudáveis, no supermercado encontramos muitas variedades de pães, queijos, molhos, cereais, sorvetes, biscoitos, iogurtes, barras de cereais, sementes, embutidos, carnes, frutas e verduras, muitos desses alimentos são vendidos em tamanho “valued pack", com preço mais acessível, dessa forma nos deparamos com iogurtes, cereais, chocolates, chips e biscoitos no quilo. As frutas e verduras são um capítulo à parte, fiquei encantada com as cores e formas de todas elas, de tão perfeitas parecem artificiais, desconfio que sejam todas geneticamente modificadas, até porque demoram a estragarem, mas também pode ser por causa do clima que favorece a conservação.

Fruits Algumas frutas ainda não encontrei por aqui, e provavelmente não encontrarei nunca, como a manga, maracujá e o mamão papaya. Já encontrei o mamão formosa, comprei por AUD 7.00 (o Eduardo quase me mata). Em compensação encontrei morango, kiwi, melão, melancia, uva, pêra, maçã, tangerina e laranja maravilhosas, tudo muito gostoso e colorido! Outro dia fiz uma salada de frutas de matar os adeptos da alimentação saudável de inveja, ficou tão linda que fiquei com vontade de bater uma foto.

Ainda fico meio perdida no supermercado com tanta variedade, já comprei alimentos achando que era outra coisa, que foram parar no lixo, como um biscoito lindo que parecia de chocolate e na verdade era de ginsen, que ardia muito na boca. Também teve um chá em uma bela embalagem, que eu achava que era um chá verde em sache e era um chá preto em pó. Estou optando pelos alimentos mais básicos no inicio, e para ir me adaptando aos poucos com as novidades.

Além da variedade, os alimentos são muito gostosos e de qualidade, e possuem preços bem acessíveis. É verdade que as frutas e verduras custam um pouco mais caro, mas não tão caro que nos impeça de comprar em quantidade e variedade. O ideal é optar pelas de menor preço, como as peras e maçãs por exemplo. Há também muitas opções de carne, frango e peixe, tudo já limpo e cortado. A sobrecoxa, por exemplo, já vem desossada.

A opção de comer fora é boa quando se está em dois, em quatro pessoas como é o nosso caso, fica muito caro, principalmente se a opção for os alimentos saudáveis, que é bem mais caro que os “junk foods” de plantão em toda esquina. Suco natural é caro e ralo, está longe do suco do Marieta. Uma boa opção são as comidas japonesas e chinesas, mata a vontade de comer comida quente de vez em quando.

Estamos iniciando na cozinha aos poucos, a cada dia fazemos um prato diferente para o jantar, de preferência macarrão. A vida por aqui é muito prática, optamos por comidas simples e rápidas, e se possível que não sujem muita louça. Tudo bem que temos máquina de lavar louça, mas se for utilizar muitas panelas, com certeza não vão caber tudo na máquina.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Dez dias de muita emoção

Após dez dias da chegada da minha família na Austrália, posso dizer que a mudança está concluída, mas a imigração não. Esses dez dias iniciais foram uma boa amostra do que iremos vivenciar nos próximos meses: emoções atrás de emoções.

Excitação, empolgação, insegurança, saudades, felicidade, tristeza... todos os sentimentos estiveram presentes em nosso dia-a-dia até agora, variando apenas de pessoa para pessoa, de momento para momento.

O meu estado emocional desde a chegada deles não tem variado muito, no máximo varia entre a euforia de quando estou com eles e a ansiedade de voltar logo para casa durante o trabalho. Quando estou com eles o sentimento não podia ser melhor, quando estou sem eles, no trabalho, não vejo a hora de correr de volta para casa para curtir um pouquinho mais da vida em família. Por mais que eu passe todo o meu tempo livre com eles, ele nunca é suficiente.

A situação não muda muito quando falamos do meu pequenininho. Ele está sempre feliz. Assim como tudo que acontece na vida de uma criança de seis anos, até agora tudo tem sido festa. Ele está adorando as pequenas diferenças, gosta de ver os carros bonitos, gostou de ter uma nova casa, um novo quarto, um novo carro. Todo novo objeto é motivo para brincadeira e festa. Até esse momento ele tem reclamado muito pouco, foram poucas as vezes que ele disse que tinha saudades, e, na maioria das vezes ela estava relacionada a falta dos seus amiginhos ou priminhas.

Não posso dizer o mesmo das mulheres da casa. No caso delas, existem mais oscilações entre sentimentos positivos e negativos. Não que elas não estejam gostando ou infelizes, mas sentimentos como insegurança, no caso da minha esposa, ou saudades, no caso da minha filha, se fazem presentes com certa freqüência.

No caso da minha esposa, diferentemente do que acontece com as crianças, a novidade nem sempre é festa. É ruim para ela, por exemplo, ir ao supermercado e ver vários produtos diferentes, numa variedade absurda e num idioma que ela conhece pouco. Não é tão fácil ter que se virar durante a maior parte do dia com duas crianças nas costas numa cidade completamente desconhecida. O tempo que passei só aqui fora muito mais fácil, pois onde quer que eu estivesse ou fosse, a única preocupação era comigo mesmo. Não havia problema nenhum, por exemplo, em eu ficar perdido por duas horas antes de achar o caminho de casa.

Já para minha filha a realidade daqui é bem diferente do que ela vivenciava no Brasil. Enquanto estava por lá, aos treze, seu maior prazer era estar no meio da molecada, fazendo festa, comentando as últimas novidades da turma, indo para as festinhas e curtindo seus paqueras. De uma hora para outra essa realidade mudou, não mudou para algo pior, mas mudou para algo que ela já tinha no Brasil, vida em família. Até agora para ela, fora a beleza do lugar, a organização e sensação de segurança, algo que um adolescente não valoriza tanto, foram poucas as coisas que esse país veio a agregar.

Tanto no caso dela como o da minha esposa, os maiores benefícios devem vir no médio prazo, com o passar dos meses e com o processo de adaptação concluído. Mas, mais uma vez, não posso dizer que elas estão tristes ou insatisfeitas, pelo contrário! Por mais trabalhosos que tenham sido esses dez dias iniciais, a chegada por aqui aliada a construção de uma nova vida tem sido bem empolgante para todos nós. Ainda é cedo para dizer qual será o resultado dessa experiência, mas posso dizer que até agora tudo tem estado dentro do esperado. Por mais que saibamos que não podemos planejar emoções e comportamentos, sabemos que esses momentos de conflitos estarão presentes durante toda a nossa estadia por aqui, seja ela de seis meses, um ou dez anos.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Ausencia Temporaria

Ola Pessoal,

Mudei recentemente para uma nova casa e ainda estou sem telefone e internet. A instalacao so deve ocorrer em cerca de 10 dias, entao devo ficar uns dias sem postar.

Abracos!

Eduardo

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Quarenta e oito dias

Nunca pensei que fosse ficar tão feliz em gastar 3.800 dólares, não sou mulher, e para mim, gastar dinheiro não é sinônimo de felicidade. Geralmente quando eu tenho que desembolsar um valor desses, faço com uma dor no coração, sempre fico inseguro, mas hoje, tão logo recebi a notificação de pagamento, corri para o banco para fazer o depósito. Não pensei, não fiquei triste, não tive dúvidas de se eu realmente deveria gastar esse dinheiro, e, seja qual fosse o valor, ele seria pago do mesmo jeito. Hoje paguei a passagem para trazer minha família para a Austrália.

Há quarenta e oito dias não vejo minha mulher e filhos. Mas o que são quarenta e oito dias perante aos anos em que convivo com eles? Será que um mês e meio longe deles tem tanta importância assim? Só quem tem família e filhos, pode ter uma idéia do que esse tempo representa na vida de uma criança.

Quarenta e oito dias representam, pelo menos, 144 refeições em família que deixei de fazer, representam, no mínimo, 624 abraços e 672 beijos que deixei de ganhar. Nesses quarenta e oito dias, deixei de ouvir “papai eu te amo!” por dezenas e dezenas de vezes, deixei de dar pelo menos 150 sorrisos de felicidade e suspiros de orgulho.

Isso sem falar no que é imensurável! Nesse tempo, deixei de ensinar o meu filho a andar de bicicleta, deixei de estragar ainda mais a minha filha com nossas sessões de guloseimas e filmes até de madrugada. Nesse período, deixei de ver como meu filho evoluiu na leitura das sílabas e palavras, deixei de vê-lo sair de um estágio em que os diálogos são de frases curtas, para contar histórias com todos os detalhes e, principalmente, deixei de estar com ele no dia do seu aniversário. Durante esse tempo, deixei de mimar a minha filha quando ela estava com dengue, perdi sua apresentação no festival do colégio, deixei de dar bronca nela quando o seu boletim veio cheio de notas vermelhas.

Olhando o outro lado da moeda, tive quarenta e oito dias muito intensos. Vividos cheio de emoções, descobrindo novos lugares, conhecendo novas pessoas, culturas, modos de vida. Posso dizer que vivi quarenta e oito dias únicos na minha vida. A sensação de começar sua vida do zero é incrível. Num dia você tem tudo, família, emprego, amigos, casa, carro, etc. no outro não tem nada, só a sua experiência de vida, princípios, valores... Mas por mais que esse período tenha sido muito especial na minha vida, ele nunca foi completo. A sensação de vazio sempre esteve presente.

Não foi só uma vez que declarei a paixão por minha família aqui, nem será a última. Dependo deles para viver e para ser feliz e, espero que, juntos aqui, todos nós possamos ter uma nova experiência que nos ajude a crescer enquanto indivíduos e família. Quanto tempo essa experiência irá durar ainda é cedo para dizer, mas uma coisa é fato, ela só será completa se todos estiverem felizes.

domingo, 8 de junho de 2008

O caro que sai barato

Além do visto, disposição e coragem, se há alguma coisa que você precisa ter quando se está emigrando para a Austrália, essa coisa é dinheiro. Principalmente se você está trazendo sua família e quer montar uma vida estruturada. A quantidade de dinheiro que você precisará investir irá depender da necessidade e estilo de vida de cada um. Se você é solteiro, e está vindo para cá para começar uma vida do zero, sem ter mulher ou filhos, sua realidade é uma, já se você tem uma família estruturada, sua realidade é outra.

Não quero entrar no mérito do custo de vida daqui, e vou resumir esse ponto numa frase: “O custo de vida daqui é maior do que o do Brasil, em compensação você ganha mais e não tem uma série de gastos que temos por lá”. O foco desse post é no custo para se estabelecer por aqui como um residente permanente.

Para facilitar, vou dividir esses custos em dois grupos, pré-viagem e pós-viagem. Considero em pré-viagem todas as despesas advindas da obtenção do visto, preparação para a mudança e viagem para a Austrália. Já na pós-viagem, considero todas as despesas que você tem desde a chegada, até a estruturação da sua rotina em uma moradia permanente. Vale à pena mencionar aqui, que as despesas você vai pagando ao longo do tempo, e não de uma vez só.

Para obter o visto e colocar o pé no avião que irá lhe trazer para cá, você irá gastar pelo menos 5.600,00 dólares americanos, e esse valor pode variar muito dependendo do seu caso. Para facilitar, criei dois cenários, um de um solteiro e outro de uma família com um(a) esposo(a) que não fala inglês e um filho.

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Já daqui é possível notar uma diferença considerável entre os custos de um solteiro emigrando para a Austrália e o de uma família. Infelizmente para nós, pais de família, essa diferença não termina aqui. É importante notar que você paga esse valor ao longo de 18 a 24 meses em média. Para evitar gastar dinheiro à toa, é importante saber se você realmente atende todos os critérios para a obtenção do visto. Por esse motivo, faça uma avaliação detalhada dos passos para reconhecer sua profissão, da pontuação que você obteve e do seu nível de inglês.

Uma vez chegando à Austrália, você se depara com outras despesas que, mais uma vez variam bastante conforme o perfil de cada um. Uma coisa é fato, você tem que trazer dinheiro para se manter por alguns meses por aqui. Isso se dá, pois conforme eu já expliquei em um post anterior, na melhor das hipóteses, você irá levar pelo menos três semanas para começar a trabalhar, o que fará com que você só vá receber seu primeiro salário quando você estiver com quase dois meses aqui.

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Os custos do dia-a-dia e acomodação nos sessenta dias iniciais estão equivalentes entre solteiros e casados, pois considerei a mudança dos dependentes da pessoa que vem com a família somente após seu estabelecimento por aqui. Dentro das despesas acima, considerei que a acomodação é em albergue, que despesa com alimentação fica em torno de vinte dólares/dia, e gastos de dez dólares por dia com internet, pois essa é uma das suas principais ferramentas para buscar empregos. As passagens aéreas são relacionadas a eventuais entrevistas que você vá fazer em outras cidades. Além disso, como solteiro, os custos com moradia são menores, já que você pode dividir apartamento com outras pessoas. Considerei também que quem vem solteiro não precisa de carro, já para quem vem em família, um carro é fundamental. No caso do carro, coloquei o valor de seis mil dólares, o que pode ser equivalente à compra de um carro mais antigo, mas em bom estado, ou ao valor da entrada para um carro mais novo. O fato é que aqui você compra um carro popular zero por treze ou quatorze mil dólares.

Mais uma vez, os custos pós-viagem podem variar muito conforme cada caso, pois tudo irá depender do seu estilo de vida. Aqui você tem a opção, por exemplo, de comprar móveis usados ou novos, o que pode fazer esse valor variar consideravelmente. O mesmo vale para valor do aluguel e eletrodomésticos. Esse valor de dois mil e quinhentos dólares considera apenas a compra dos móveis básicos, como cama, mesa e cadeiras.

Se você é solteiro, precisará investir pelo menos treze mil dólares para emigrar, já os com família gastam pelo menos trinta mil, o que faz com que essa escolha tenha que ser muito bem planejada. A idéia desse post não é desencorajar quem não tem esse dinheiro, afinal eu sei que juntar um valor desses estando no Brasil não é fácil, mas sim dar a vocês uma noção mais próxima da realidade que você enfrentará. Uma coisa é certa, tendo esse dinheiro ou não, uma vez definido que é isso o que você quer para sua vida, os meios para traçar esse caminho são os mais diversos e, se você mantiver o foco e buscar soluções criativas, todo sonho é viável.

Treze ou tinta mil dólares, isso é muito dinheiro para começar uma nova vida?

terça-feira, 3 de junho de 2008

Procurando moradia – Parte II

Escolher o local que você irá morar não é nada fácil, e o fato de você ter chegado a pouco tempo no país e não conhecer nada, não ajuda em nada. A primeira dúvida que vem logo de cara é: Morar próximo do centro ou em bairros mais afastados? Ambos têm vantagens e desvantagens. Morar próximo do centro, por exemplo, lhe dá grande mobilidade, principalmente se o seu meio de transporte for público, mas em compensação custa bem mais caro.

Uma vez tomada sua decisão, sobre morar perto ou longe da cidade, você tem que decidir em que bairros irá pesquisar imóveis, e é ai que começa o problema. Os bairros aqui são bem segmentados, são milhões de opções, em poucos quilômetros quadrados, você acha dois ou três bairros. É diferente, por exemplo, de você dizer que mora na Barra no RJ ou na Aldeota, em Fortaleza. Se a Barra fosse aqui na Austrália, ela seria quebrada pelo menos em oito ou dez bairros diferentes. Quanto você vai pesquisar a lista de localidades, você encontra centenas de opções. Ascot fica na região sul ou norte de Brisbane? Fica perto ou longe do centro?

Uma saída é visitar as imobiliárias ao invés de usar sites de imóveis para fazer a procura. As imobiliárias aqui são especializadas na região que elas estão localizadas. Se você quer morar em New Farm, dê uma volta pelo bairro e visite as imobiliárias da região, que você irá achar várias opções naquele bairro. São dois os problemas dessa estratégia: Primeiro porque você também não conhece todas as imobiliárias nem sabe onde elas ficam, e ficar rodando de ônibus ou a pé não é nada produtivo. Segundo, porque assim, o seu leque de opções fica bem menor, já que você fica limitado a duas ou três imobiliárias que consegue visitar.

Para me ajudar no processo resolvi me abstrair então de nomes de bairros. Na verdade saí perguntando para várias pessoas indicações de bairros e formei uma lista de umas 15 opções. A partir daí usei apenas o realestate.com.au com o seguinte critério: A distância para a city não poderia ser maior do que 15km e eu não poderia pegar mais que uma condução para ir ao trabalho. Uma vez feito isso, passei a configurar as casas no realestate.com.au com o número de quartos e valor que me interessava, sempre dentro dos quinze bairros que tinham me indicado. Com os resultados na tela, eu usava então o Google Maps para calcular a distancia para o centro e o site do Translink (sistema de transporte público daqui) para traçar a rota para o trabalho. Deixei para conhecer os bairros então só quando eu ia fazer as inspeções.

Inspecionar cinco imóveis foi o suficiente para eu achar o local que eu queria morar: uma casa de três quartos, dois banheiros, um lavabo, vaga na garagem, numa vizinhança a 10km do centro e bem próxima de colégios, shopping centers, supermercados, etc. É um imóvel novo (primeira locação) num contrato de seis meses. Acabei achando bom esse negócio de contrato curto, pois se eu não gostar, também tenho a opção de mudar de residência sem maiores complicações.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Procurando moradia – Parte I

Para se estabilizar na Austrália, todo imigrante que vem como residente permanente tem que passar por pelo menos quatro etapas obrigatórias: (1) conseguir dinheiro para emigrar, (2) conseguir o visto, (3) conseguir um emprego e (4) conseguir um local para morar. Até esse momento já superei as três primeiras, faltando apenas conseguir uma moradia, que espero fazer amanhã, pois estou indo assinar um contrato de aluguel numa imobiliária.

As condições para se conseguir uma boa moradia na Austrália podem variar muito conforme a localidade que você está se estabelecendo, principalmente no tocante a valores e concorrência. Mas uma coisa é comum em todas as regiões: os contratos de aluguel aqui são feitos única e exclusivamente para beneficiar os proprietários e imobiliárias.

O problema acontece porque, assim como no Brasil, a lei australiana favorece bastante o inquilino, e como os valores dos imóveis aqui são extremamente elevados, tudo o que um proprietário não quer é, um inquilino que não está pagando o aluguel ou que está destruindo sua residência sem conseguir tirá-lo de lá porque a lei não permite.

Para mitigar esse risco, os proprietários e imobiliárias utilizam dois artifícios: contratos curtos e processo seletivo rigoroso. Diferentemente do Brasil, onde você consegue fazer contratos de dois ou três anos, aqui a duração padrão de um contrato de aluguel é seis meses. O motivo para isso é muito simples, se for para ter problemas com um inquilino, esses problemas só vão durar seis meses. Além disso, como as condições do mercado imobiliário aqui são muito dinâmicas, o proprietário fica com maior poder de barganha na hora de renovar. Se o valor do imóvel valorizou, ele consegue facilmente jogar essa diferença no novo contrato.

É até estranho, mas aqui para alugar um imóvel, você passa por um processo seletivo. Não interessa se você chegou primeiro, se você tem condições de pagar o aluguel, ou se você tem lindos olhos verdes, o proprietário só aluga para você depois que ele analisar seu perfil e gostar dele. Isso se dá da seguinte forma: os imóveis geralmente são anunciados em imobiliárias ou sites como o realestate.com.au. Uma vez que o anúncio é feito, eles marcam um dia específico para a inspeção do imóvel, e, nesse dia, você e mais vários interessados vão lá analisar a propriedade. A inspeção geralmente leva de 15min a meia hora. Os interessados então preenchem um formulário com várias perguntas, onde você tem que informar: quem irá morar com você, sua remuneração, empresa que trabalha, onde morava antes, contato da imobiliária que gerenciava o seu aluguel anterior, contato do síndico (manager) do seu condomínio, referências locais, referências do seu emprego, se você tem bicho de estimação, etc. Uma vez que eles recebem todas as aplicações, elas são submetidas ao proprietário, que então toma a decisão de para quem ele irá alugar o imóvel.

Se você é uma pessoa organizada, tranqüila, paga suas contas em dia, etc. você não terá nenhum tipo de problema para conseguir moradia por aqui. Agora, se você adora fazer festas no seu apartamento, entregou o seu imóvel anterior todo destruído ou não pagou o aluguel em dia, você pode passar por sérios problemas.

Felizmente, mesmo sendo recém chegado do Brasil e sem referências locais anteriores, fui aprovado nas duas aplicações que fiz, mas nem por isso deixei de ficar intimidado pelo processo. Imagina só a situação: você vai fazer uma inspeção numa casa, quando você chega lá no horário marcado, já tem umas dez pessoas do lado de fora esperando. A corretora chega e abre a residência para inspeção. Se você não gosta do imóvel, beleza, você vai embora e não perde mais seu tempo. Agora, se você se encanta com o lugar, a situação fica insuportável! Primeiro porque as dez pessoas não são mais dez, enquanto você está inspecionando a casa já chegaram mais dez, e quando você vê, está fazendo fila para entrar num quarto. Segundo, porque não são vinte pessoas que estão ali contigo, mas sim vinte concorrentes! Em pouco tempo, eles viram seus inimigos mortais. “Ta olhando para minha casa por quê? Sai fora!”. Dali um pouco você está analisando seus concorrentes, fica imaginando se o perfil deles pode ser melhor do que o seu, fica olhando quem pegou o formulário de aplicação. “Porra, aquele cara lá veio de carro e eu vim de ônibus”, “Droga, aquele loirão lá é Australiano, com certeza eles vão dar prioridade para quem é daqui”...

Uma coisa é fato, as imobiliárias querem velocidade, então não perca tempo, gostou do imóvel, aplique! Ficou na dúvida, aplique! Não foi com a cara do seu concorrente e quer tirar a vaga dele, aplique! O problema é depois você gerenciar as imobiliárias que ficam te ligando para fechar o negócio, mas na dúvida, é melhor garantir.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Shine A Light

Shine a Light

Acabei de assistir “Shine A Light”, um filme de Martin Scorsese sobre os Rolling Stones. É incrível. Se eu fosse o Scorsese faria o filme exatamente como ele fez, não mudaria nada. Sou um grande admirador da música dos Stones e não estou nem aí para o que eles fazem em sua vida particular. Pelo visto Scorsese pensa como eu, o filme é muito mais um show do que um documentário. Até onde sei, ele não é nem proposto como um documentário, e na prática traduz tudo que o grupo representa: rock de qualidade.

Me chamem de velho, de antigo, quadrado, do que for, mas as bandas que surgiram na década de sessenta são as melhores até hoje. Só para comprovar minha tese, além dos Rolling Stones, surgiram também nessa época os Beatles, Bob Dylan, The Doors, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Eric Clapton, Led Zeppelin, The Who e Pink Floyd. Não sou profundo admirador de todos eles, mas independente do meu gosto, ai só tem som de qualidade. Quando foi que tivemos uma revolução musical tão grande em uma década?

Voltando ao filme, o Scorsese consegue em duas horas um equilíbrio perfeito. O repertório foi escolhido com muito cuidado e, embora o filme demonstre que ele só tomou conhecimento das músicas na última hora, com certeza a decisão fazer o filme com músicas menos conhecidas foi planejada. É claro que alguns clássicos estão lá, mas como a maior parte do tempo as músicas que tocam não são hits, você deixa o embalo de lado para prestar atenção nos detalhes, na qualidade musical, nas caras e bocas do Mick Jagger e no som isolado de cada instrumento, dado sempre que ocorre um close em seu músico.

Por vários momentos fiquei me questionando como os caras conseguem fazer o que fazem com tanta facilidade. O entrosamento da banda é perfeito, o Keith Richards esbanja uma naturalidade tamanha que me fez pensar várias vezes: “porra, parece que os caras fazem isso há 50 anos!”, para concluir em seguida: “de fato eles fazem isso há esse tempo”. Chega a ser engraçado quando um repórter pergunta ao Mick Jagger ainda com cara de moleque: “Você se vê fazendo isso aos 60 anos?” E ele respondendo em seguida: “Sem dúvida!”.

shinealight

Eles estão lá brincando, fazendo o que amam, envolvendo e sendo envolvidos. Talvez esse seja o segredo da banda, talvez esse seja o motivo deles fazerem a mesma coisa há 46 anos e ainda manterem tesão por isso, talvez essa seja a razão para eles estarem aqui, demonstrar para o mundo o segredo de seu sucesso.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Funcionário público

No Brasil existem dois meios de se tornar funcionário público, via concurso ou através de cargo comissionado. Os dois são um problema para o país. Quando falamos de concurso público estamos falando de um processo extremamente lento, não só devido a burocracia que um órgão tem que passar para lançar uma seleção, mas também porque esse processo está sujeito a fatores externos, como impugnação, liminares, processos judiciais, etc. Além disso, ele é um processo extremamente ineficaz, pois após esperar meses ou anos, o órgão público fica sujeito a receber um profissional completamente despreparado para a posição, uma vez que o único critério de avaliação é uma prova, que não mede competência de ninguém.

Quando falamos de cargo comissionado o problema se agrava mais ainda. Não pela flexibilidade do processo, que pode facilitar bastante a contratação de mão-de-obra qualificada, mas pelo fato deste ser utilizado amplamente como cabide de emprego para parentes, filiados de partidos, amigos, sobrinhos, fantasmas, etc. Claro que existem vários funcionários com esse tipo de vínculo que dão grandes contribuições para o país, mas na minha visão, a baderna é tão grande que o resultado não compensa.

Com três semanas de Austrália virei funcionário público. Não precisei fazer concurso nem ser indicado por nenhum político para conseguir isso, mas sim passar por um processo de seleção rigoroso para conseguir a vaga. Para vocês terem uma idéia, a vaga estava aberta desde Dezembro do ano passado, e ao todo passei por quatro entrevistas, tive que responder a um key selection criteria, demonstrar quais seriam as minhas ações para entregar os resultados esperados para posição, e, para finalizar, tive que apresentar duas referências do Brasil que atestassem minhas qualificações. Só aceitaram indicações que falassem inglês, pois o contato só poderia ser via telefone, nada da email, carta, fax, telégrafo, sinal de fumaça, etc.

Trabalho para a Sparq Solutions que é um integrador de TI pertencente aos dois provedores de energia do estado de Queensland, a ENERGEX e Eregon Energy. Sabe qual a principal diferença entre a minha posição e a de uma empresa privada daqui? Nenhuma! Não há distinção, trabalho para uma empresa pública e isso não faz de mim um funcionário público. Até onde pude perceber esse título não existe por aqui. Assinei o contrato há uma semana e só agora me dei conta que quem paga o meu salário é o Governo Australiano! E assim como qualquer funcionário, estou sujeito as regras do mercado, posso ser demitido, promovido, ter meu salário aumentado, tenho métricas de desempenho, metas a bater, etc.

Mesmo após quatro semanas tendo contatos frequentes com a empresa, só me dei conta disso hoje enquanto meu chefe me explicava que, devido ao fato da Sparq ser uma empresa pública, o nosso processo de aquisição também tinha que ser público, e isso o tornava mais demorado. Ainda não sei dizer se há diferenças de trabalhar numa empresa pública ou num órgão do governo, não sei se isso tem diferença no Brasil também. Mas considero interessante o fato de ter levado um mês para perceber quem realmente é o meu empregador, pois no Brasil, independentemente de qual empresa você entra, você logo percebe se ela é pública ou privada.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

A esquerda não é a mão do relógio!

Quando você estiver dirigindo aqui na Austrália e pensar: “porque diabo aquele cara está vindo na contramão?”, não tenha dúvidas, é você que está na mão errada. Esse foi um dos pensamentos e barbeiragens que fiz ao assumir pela primeira vez um carro no qual o motorista senta no lado direito. É a coisa mais entranha do mundo, seu cérebro já está programado para fazer tudo do lado esquerdo, e quando você vê, tem que trocar tudo. Por mais que você se esforce e concentre na direção, quando você tem que fazer uma ação por puro reflexo, no automático, você faz tudo errado.

Ora você passa marcha na porta, ora você liga o limpador de pára-brisa ao invés da seta, ora você olha para o lado de fora do carro procurando o retrovisor que agora está ao seu lado esquerdo. Não adianta, as ações advindas de reflexo condicionado saem todas erradas. Isso sem contar com a sua relação com o tráfego, ruas, pedestres. Dobrar a esquerda num cruzamento? Lá vai você com uma curva bem aberta entrando pela contramão. Fazer uma curva fechada para a esquerda? Lá vai você todo desgovernado sem saber em que faixa fica. Andar avenida de mão única com quatro faixas? Lá vai você ficar atrás do primeiro carro que encontrar só para ter certeza que está na mão certa.

E o pior é que um negócio que parece tão simples mexe diretamente com sua auto-estima e subconsciente. Me pergunte onde é a direita e esquerda? Não sei mais! Minha irmã falou: “Duda, na próxima à esquerda OK?”, “OK” e lá vou eu entrando para a direita. Porra, há 30 anos a esquerda fica do lado do motorista, agora vem neguinho dizer que é ao contrário! Você se sente um incompetente, perde a capacidade de saber se um sinal está verde ou vermelho! Até entrar no carro é difícil! Quando você entra no lado do motorista no Brasil, o movimento é intuitivo, natural: perna direita primeiro, passando-a por baixo do volante e colocando-a na outra extremidade do banco, logo em seguida você termina de entrar, senta e coloca a perna esquerda dentro do carro. Pronto! Muito simples! Vai fazer isso do lado direito? A perna esquerda fica enganchando no volante, você não sabe se entra de frente ou de lado, as coisas não se encaixam como deveriam!

Até ficar do lado do passageiro é estranho. Não foi só uma fez que ao entrar no carona coloquei o pé na embreagem, que não existia. Ao sair, várias vezes me apoiei no volante, que também não estava lá. Enquanto o carro anda, mesmo estando sobre quatro rodas, você tem a sensação que ele está virando, querendo capotar, acho que é o seu cérebro tentando inverter a posição para o lado “certo” das coisas. Dessas poucas vezes que dirigi já cheguei a uma conclusão: só compro carro se for automático! Quando menos coisa para me preocupar melhor!