sexta-feira, 30 de maio de 2008

Shine A Light

Shine a Light

Acabei de assistir “Shine A Light”, um filme de Martin Scorsese sobre os Rolling Stones. É incrível. Se eu fosse o Scorsese faria o filme exatamente como ele fez, não mudaria nada. Sou um grande admirador da música dos Stones e não estou nem aí para o que eles fazem em sua vida particular. Pelo visto Scorsese pensa como eu, o filme é muito mais um show do que um documentário. Até onde sei, ele não é nem proposto como um documentário, e na prática traduz tudo que o grupo representa: rock de qualidade.

Me chamem de velho, de antigo, quadrado, do que for, mas as bandas que surgiram na década de sessenta são as melhores até hoje. Só para comprovar minha tese, além dos Rolling Stones, surgiram também nessa época os Beatles, Bob Dylan, The Doors, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Eric Clapton, Led Zeppelin, The Who e Pink Floyd. Não sou profundo admirador de todos eles, mas independente do meu gosto, ai só tem som de qualidade. Quando foi que tivemos uma revolução musical tão grande em uma década?

Voltando ao filme, o Scorsese consegue em duas horas um equilíbrio perfeito. O repertório foi escolhido com muito cuidado e, embora o filme demonstre que ele só tomou conhecimento das músicas na última hora, com certeza a decisão fazer o filme com músicas menos conhecidas foi planejada. É claro que alguns clássicos estão lá, mas como a maior parte do tempo as músicas que tocam não são hits, você deixa o embalo de lado para prestar atenção nos detalhes, na qualidade musical, nas caras e bocas do Mick Jagger e no som isolado de cada instrumento, dado sempre que ocorre um close em seu músico.

Por vários momentos fiquei me questionando como os caras conseguem fazer o que fazem com tanta facilidade. O entrosamento da banda é perfeito, o Keith Richards esbanja uma naturalidade tamanha que me fez pensar várias vezes: “porra, parece que os caras fazem isso há 50 anos!”, para concluir em seguida: “de fato eles fazem isso há esse tempo”. Chega a ser engraçado quando um repórter pergunta ao Mick Jagger ainda com cara de moleque: “Você se vê fazendo isso aos 60 anos?” E ele respondendo em seguida: “Sem dúvida!”.

shinealight

Eles estão lá brincando, fazendo o que amam, envolvendo e sendo envolvidos. Talvez esse seja o segredo da banda, talvez esse seja o motivo deles fazerem a mesma coisa há 46 anos e ainda manterem tesão por isso, talvez essa seja a razão para eles estarem aqui, demonstrar para o mundo o segredo de seu sucesso.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Funcionário público

No Brasil existem dois meios de se tornar funcionário público, via concurso ou através de cargo comissionado. Os dois são um problema para o país. Quando falamos de concurso público estamos falando de um processo extremamente lento, não só devido a burocracia que um órgão tem que passar para lançar uma seleção, mas também porque esse processo está sujeito a fatores externos, como impugnação, liminares, processos judiciais, etc. Além disso, ele é um processo extremamente ineficaz, pois após esperar meses ou anos, o órgão público fica sujeito a receber um profissional completamente despreparado para a posição, uma vez que o único critério de avaliação é uma prova, que não mede competência de ninguém.

Quando falamos de cargo comissionado o problema se agrava mais ainda. Não pela flexibilidade do processo, que pode facilitar bastante a contratação de mão-de-obra qualificada, mas pelo fato deste ser utilizado amplamente como cabide de emprego para parentes, filiados de partidos, amigos, sobrinhos, fantasmas, etc. Claro que existem vários funcionários com esse tipo de vínculo que dão grandes contribuições para o país, mas na minha visão, a baderna é tão grande que o resultado não compensa.

Com três semanas de Austrália virei funcionário público. Não precisei fazer concurso nem ser indicado por nenhum político para conseguir isso, mas sim passar por um processo de seleção rigoroso para conseguir a vaga. Para vocês terem uma idéia, a vaga estava aberta desde Dezembro do ano passado, e ao todo passei por quatro entrevistas, tive que responder a um key selection criteria, demonstrar quais seriam as minhas ações para entregar os resultados esperados para posição, e, para finalizar, tive que apresentar duas referências do Brasil que atestassem minhas qualificações. Só aceitaram indicações que falassem inglês, pois o contato só poderia ser via telefone, nada da email, carta, fax, telégrafo, sinal de fumaça, etc.

Trabalho para a Sparq Solutions que é um integrador de TI pertencente aos dois provedores de energia do estado de Queensland, a ENERGEX e Eregon Energy. Sabe qual a principal diferença entre a minha posição e a de uma empresa privada daqui? Nenhuma! Não há distinção, trabalho para uma empresa pública e isso não faz de mim um funcionário público. Até onde pude perceber esse título não existe por aqui. Assinei o contrato há uma semana e só agora me dei conta que quem paga o meu salário é o Governo Australiano! E assim como qualquer funcionário, estou sujeito as regras do mercado, posso ser demitido, promovido, ter meu salário aumentado, tenho métricas de desempenho, metas a bater, etc.

Mesmo após quatro semanas tendo contatos frequentes com a empresa, só me dei conta disso hoje enquanto meu chefe me explicava que, devido ao fato da Sparq ser uma empresa pública, o nosso processo de aquisição também tinha que ser público, e isso o tornava mais demorado. Ainda não sei dizer se há diferenças de trabalhar numa empresa pública ou num órgão do governo, não sei se isso tem diferença no Brasil também. Mas considero interessante o fato de ter levado um mês para perceber quem realmente é o meu empregador, pois no Brasil, independentemente de qual empresa você entra, você logo percebe se ela é pública ou privada.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

A esquerda não é a mão do relógio!

Quando você estiver dirigindo aqui na Austrália e pensar: “porque diabo aquele cara está vindo na contramão?”, não tenha dúvidas, é você que está na mão errada. Esse foi um dos pensamentos e barbeiragens que fiz ao assumir pela primeira vez um carro no qual o motorista senta no lado direito. É a coisa mais entranha do mundo, seu cérebro já está programado para fazer tudo do lado esquerdo, e quando você vê, tem que trocar tudo. Por mais que você se esforce e concentre na direção, quando você tem que fazer uma ação por puro reflexo, no automático, você faz tudo errado.

Ora você passa marcha na porta, ora você liga o limpador de pára-brisa ao invés da seta, ora você olha para o lado de fora do carro procurando o retrovisor que agora está ao seu lado esquerdo. Não adianta, as ações advindas de reflexo condicionado saem todas erradas. Isso sem contar com a sua relação com o tráfego, ruas, pedestres. Dobrar a esquerda num cruzamento? Lá vai você com uma curva bem aberta entrando pela contramão. Fazer uma curva fechada para a esquerda? Lá vai você todo desgovernado sem saber em que faixa fica. Andar avenida de mão única com quatro faixas? Lá vai você ficar atrás do primeiro carro que encontrar só para ter certeza que está na mão certa.

E o pior é que um negócio que parece tão simples mexe diretamente com sua auto-estima e subconsciente. Me pergunte onde é a direita e esquerda? Não sei mais! Minha irmã falou: “Duda, na próxima à esquerda OK?”, “OK” e lá vou eu entrando para a direita. Porra, há 30 anos a esquerda fica do lado do motorista, agora vem neguinho dizer que é ao contrário! Você se sente um incompetente, perde a capacidade de saber se um sinal está verde ou vermelho! Até entrar no carro é difícil! Quando você entra no lado do motorista no Brasil, o movimento é intuitivo, natural: perna direita primeiro, passando-a por baixo do volante e colocando-a na outra extremidade do banco, logo em seguida você termina de entrar, senta e coloca a perna esquerda dentro do carro. Pronto! Muito simples! Vai fazer isso do lado direito? A perna esquerda fica enganchando no volante, você não sabe se entra de frente ou de lado, as coisas não se encaixam como deveriam!

Até ficar do lado do passageiro é estranho. Não foi só uma fez que ao entrar no carona coloquei o pé na embreagem, que não existia. Ao sair, várias vezes me apoiei no volante, que também não estava lá. Enquanto o carro anda, mesmo estando sobre quatro rodas, você tem a sensação que ele está virando, querendo capotar, acho que é o seu cérebro tentando inverter a posição para o lado “certo” das coisas. Dessas poucas vezes que dirigi já cheguei a uma conclusão: só compro carro se for automático! Quando menos coisa para me preocupar melhor!

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Contrato assinado!

Treze dias de “trabalho”, esse foi o tempo necessário para conseguir um emprego. Depois de três semanas e meia morando aqui, dos quais duas fiquei focado na busca e desenvolvimento de oportunidades de trabalho, finalmente assinei um contrato. Os dois dias que precederam minha decisão foram os mais difíceis, não pelo processo seletivo em si, mas pelo peso da decisão.

Depois de ser eliminado por ser “qualificado demais” de uma das vagas que eu concorria, fiquei ao todo com três “jobs offers”, duas para Sydney e uma para Brisbane. A eliminação por “excesso de qualificação” não ajudou em nada a decisão, pois minha expectativa seria escolher entre uma das duas melhores propostas para Brisbane. No final, me vi na indecisão de optar entre buscar desafio profissional e salário alto em Sydney, contra uma remuneração menor e maior qualidade de vida em Brisbane. Optei por Brisbane.

Uma hora, esse foi o tempo levado entre receber a última “job offer” e ligar para as empresas com minha decisão. Não que eu quisesse tomar logo a decisão, mas esse foi o deadline dado por uma das empresas para que eu desse minha resposta. Isso não quer dizer que eu tenha avaliado as ofertas por uma hora apenas, levei dias fazendo isso. Conforme você caminha nos processos seletivos, você já tem uma idéia de qual será o resultado de cada um deles. O problema foi que até a última hora, eu ainda não tinha chegado a uma decisão. Na verdade, eu estava tendendo a pegar uma das ofertas de Sydney, pois embora fosse um contrato de apenas quatro semanas, ele se tornaria permanente se o resultado do meu trabalho fosse bom, nesse caso, com uma remuneração absurdamente alta.

Aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo uma pergunta bem simples fez com que eu mudasse de idéia: “O que vim fazer na Austrália?” Essa resposta era muito abrangente para ser respondida em uma hora, mas rapidamente identifiquei duas coisas que NÃO vim fazer aqui: morrer de trabalhar e viver estressado. Esse pensamento abriu minha mente para me questionar outro ponto: “aceito a opção que mais me desafia profissionalmente ou a que agrada mais minha família?”. Não precisei avaliar mais nada, pois não restaram mais dúvidas sobre o que eu buscava. Notem, não estou dizendo aqui que morar em Sydney é sinônimo de muito trabalho e estresse, mas sim que o tipo de trabalho das duas propostas que recebi de lá, somadas a vida que levamos ao morar em cidade grande me levaria isso.

Liguei para a empresa às 17:30hs da terça-feira com minha decisão, eu estava em Sydney. Quarta de manhã voltei para Brisbane e, ao chegar em casa às 12:30hs, encontrei um kit de boas vindas da empresa que me contratou. Fiquei impressionado pela eficiência, até mesmo porque se tratava de um envelope com uma série de documentos, incluindo contrato de trabalho já preenchido e assinado pelo CEO da empresa.

Agora é começar a trabalhar, terminar de me estabelecer, trazer a mulher e os filhos, para então ter uma idéia real do que é viver na Austrália.

sábado, 17 de maio de 2008

A escolha de onde morar

Um das perguntas que nos vêm a cabeça quando estamos nos preparando para a mudança é a definição da cidade que iremos morar. A tendência natural dos imigrantes que vêm para cá é adotar Sydney como seu destino. Não é por menos, essa cidade é a referência da Austrália no exterior, é o centro de negócios daqui e também a maior cidade. A escolha da cidade que você irá residir provavelmente irá influenciar diretamente o estilo de vida que você terá, portanto, essa é uma escolha bem importante.

Embora Sydney seja a cidade mais importante, ela não é a única. Aqui existem algumas opções bem interessantes e uma coisa é certa, para quem vêm do Brasil buscando organização, segurança, oportunidades e uma nova experiência, todas elas são uma excelente opção. São três as principais cidades daqui, além de Sydney, temos também Brisbane e Melbourne. Embora Perth também merecesse ser mencionada nessa lista, resolvi deixá-la de fora por um motivo, ela é muito distante, e para quem está emigrando do Brasil com eu, sem emprego definido, é bom estar perto de uma dessas três cidades, pois isso facilita sua movimentação para entrevistas e visitas. Semana que vem, por exemplo, vou para uma entrevista em Sydney, viajo na segunda a noite e volto na quarta. A pequena distância entre as cidades sem dúvida ajuda muito essa movimentação.

Não quero entrar no detalhe de cada cidade, pois se eu fizesse isso eu estaria sendo redundante. Existem vários outros sites que falam das características de cada uma delas, portanto não vale a pena entrar nesse mérito aqui. O importante é que você saiba as características de cada uma delas para que, com base no seu perfil, você tome sua decisão.

Para quem, por exemplo, é solteiro, com domínio do idioma e um bom currículo, não tenho dúvidas que Sydney é a melhor opção. A maior parte das oportunidades está lá, assim como as maiores remunerações, isso facilita bastante sua chegada e acomodação. Ter um bom currículo é importante para chegar lá, principalmente se você está com pouco dinheiro e tendo que conseguir uma renda rápida. Ter experiência local é algo que eles valorizam muito aqui e sua experiência/qualificação será uma forma de sobrepor essa fraqueza.

Uma vez estabelecido na cidade, você vai encontrar milhões de programas para fazer, o que para alguém solteiro é excelente. Sydney é uma cidade internacionalizada, boa parte da população é estrangeira, o que faz com que você possa conhecer novas pessoas e culturas. Dinheiro no bolso e opções de entretenimento, o que mais alguém solteiro deseja? Para fechar, como você é solteiro, não irá gastar tanto com aluguel, que é o maior custo daqui.

Se você é casado e com filhos, ou até sem, mas seu companheiro não fala inglês, Brisbane é a melhor opção. Essa não é uma percepção só minha, mas de várias pessoas que já conversei sobre esse assunto aqui. Brisbane é uma cidade muito bem planejada e organizada, se perder aqui é praticamente impossível, e tudo é perto. Isso facilita bastante sua integração e dá mais segurança para seu companheiro e filhos. Consigo imaginar, por exemplo, em pouco tempo minha filha de treze anos indo para o colégio sozinha aqui, já em Sydney, eu não cogitaria essa hipótese por um bom tempo, a não ser que o colégio fosse perto de casa.

O clima de Brisbane também favorece muito a criação de seus filhos. Aqui só há dois meses de frio por ano, sendo esse frio tolerável. Quem tem filhos, quer vê-los na rua correndo, andando de bicicleta, subindo em árvores, jogando bola, etc. Além disso, as ruas são muito tranqüilas, há sempre um parque perto de casa e não há aquela correria de cidade grande, o que ajuda muito no dia-a-dia de uma família.

A carência de profissionais qualificados aqui também é maior. A receptividade dos currículos aplicados para as vagas aqui foi bem maior que a de Sydney. Tudo bem que dei maior foco para as vagas aqui de Brisbane, mas com certeza o número de candidatos por vaga daqui é bem menor do que o de Sydney. Além do trabalho, o custo de vida aqui é bem menor, morar bem aqui custa muito mais barato do que em Sydney. Se você quiser, por exemplo, conseguir aqui uma casa de três quartos a um preço acessível, você irá morar a 20 ou 30min do centro. Em Sydney, você irá morar a pelo menos uma hora, principalmente se você não morar perto de uma estação de trem.

Já para os casados, sem filhos e com ambos falando inglês, Melbourne é uma excelente opção. Não posso falar com tanta propriedade de lá, pois não visitei a cidade ainda, sugiro até que vocês darem uma olhada num post recente feito pelo Jerry em seu blog (http://australiabrazil.blogspot.com/2008/04/3-dias-em-melbourne.html). Melbourne é a mais romântica das três cidades, os programas lá são bem culturais, o que sugere ótimos programas para um casal. Como lá é o centro financeiro da Austrália, oportunidades de emprego não faltam, o que faz com que você tenha uma boa renda, com um custo de vida menor que o de Sydney. Como lá faz frio durante a maior parte do ano, você provavelmente terá uma vida mais “indoor”, o que para um casal não é problema.

Uma coisa é certa, para quem vem do Brasil, qualquer lugar aqui será simplesmente maravilhoso. Não que nosso país também não seja, porque é, mas sabemos que quem vem para cá, está justamente querendo fugir das mazelas de nosso país, e você não encontrará nenhuma delas por aqui.

O sistema de transporte australiano

Acho que uma boa forma de medir o nível de organização de um país, bem como o respeito aos cidadãos, é medindo o seu sistema de transporte público. Já citei em diversos posts anteriores exemplos de como o negócio funciona aqui, resolvi então consolidar algumas informações num único post.

Sistema de transporte público eficiente não quer dizer ônibus e trens novinhos em folha. Uma coisa não está ligada diretamente a outra. Tenho aqui o exemplo de três cidades diferentes: Sydney, Brisbane e Gold Coast, cada uma delas têm suas peculiaridades. Antes de entrar nas características de cada uma delas, vamos falar do que é comum a todas elas.

O sistema de transporte aqui é integrado, ou seja, ônibus, trem ou barco (ferry) funcionam com um único sistema. Se, por exemplo, para você chegar ao seu destino é necessário pegar dois ônibus, um barco e um trem, você compra a sua passagem ao pegar o primeiro ônibus informando o seu destino. Daí em diante basta apresentar a mesma passagem nos demais e dar seqüência a sua viagem.

Quando você informa o seu destino, na verdade, você está definindo a zona no qual você vai se deslocar. Aqui, todos os bairros são demarcados por zonas, sendo a zona 1 o centro da cidade, a zona 2 os bairros que rodeiam o centro, e assim por diante. Quanto maior o numero da sua zona, mais distante do centro você está. Quando você vai comprar uma passagem, o preço dessa irá variar conforme o seu deslocamento. Se você está na zona 1 e só vai se deslocar dentro dela, o preço é um, se você quer se deslocar até a zona 4, o preço é outro. Ao comprar a sua passagem, você informa para quais zonas você vai se deslocar e está tudo resolvido. A zona não é o único fator que determina o preço, além disso, existem preços diferenciados para horários de menor movimento, nessas horas o valor é mais barato.

Aqui também há a opção de comprar passagens por períodos, ou seja, você pode comprar uma passagem de ida como vemos ai no Brasil, mas, além disso, podemos comprar uma passagem diária. Isso quer dizer que naquele dia você pode se deslocar quantas vezes quiser dentro da zona especificada na sua passagem. Além da passagem diária, você pode comprar também a semanal ou mensal. Uma passagem simples para zona 2 aqui em Brisbane custa A$ 2,70. A diária custa A$ 5,40, a semanal custa A$ 21,60 e a mensal A$ 86,40. Existem também opções de passagens de dez viagens por exemplo. Nesse caso você paga dez trechos para usar quando quiser. O interessante desse esquema é que ele atende a todos os públicos, beneficiando a necessidade de cada um. Se você, por exemplo, vai pegar um ônibus uma única vez para ir ao centro, paga um valor único e baixo que está resolvido. Se você vai todos os dias trabalhar no mesmo lugar, pode comprar uma passagem semanal ou mensal e também se beneficia pelo preço reduzido.

Outro ponto interessante aqui é que transporte público tem hora para chegar e para sair. Em todos os pontos de ônibus, estações de trem ou em píers, você encontra uma tabela com os horários de saída do transporte. A pontualidade do sistema de trem e barco é impressionante. Não há fatores externos, portanto se o trem esta marcado para sair as 11:41hs, ele vai sair nessa hora. Para ônibus a pontualidade existe, mais não é tão precisa, você está sujeito então a pequenas variações para mais ou para menos no horário de saída. Mesmo não sendo tão preciso, o fato de a tabela estar lá já ajuda muito, você pode ver, por exemplo, que das 7:30hs as 8:10hs os ônibus passam a cada 6min, e que depois das nove o tempo passa a ser a cada 10min, em horários de pouco movimento a diferença pode chegar até a 1hora. Você então pode se programar conforme a freqüência e horário do ônibus. De manhã cedo ao ir para o trabalho, você não precisa se preocupar tanto com o horário, pois sabe que vai esperar no máximo 6min no ponto. Já de madrugada, é bom consultar a tabela antes de ir ao ponto, porque senão pode acabar esperando até 1hora.

Já as peculiaridades de cada cidade variam conforme as características de cada uma. Em Sydney, por exemplo, não vi muito sentido em usar ônibus para me deslocar no centro. Lá, onde quer que você esteja indo no centro você pode ir de trem, que acaba sendo o meio de transporte mais utilizado. Existem trens que são mais novos e trens mais velhos, uns mais surrados, cheiros de pichação, e outros novinhos. Todos eles possuem dois andares em cada vagão, o que otimiza o espaço e faz com que você sempre viaje sentado. Saindo do centro, você pode usar ônibus ou barco, mas geralmente só para chegar a estação de trem mais próxima, ou para andar dentro da própria vizinhança.

Em Brisbane, o meio de transporte mais usado é o ônibus. Embora esses não sejam novos, todos eles são muito bem conservados. O sistema de trem aqui é mais moderno do que o de Sydney, mas esse é usado mais para bairros distantes. O interessante aqui é o esquema de rotas montadas para os ônibus. Até onde pude perceber, todos os ônibus saem da periferia e se deslocam até o centro da cidade. É como se você estivesse num circulo, onde o centro desse circulo é o centro, onde as rotas dos ônibus saem da periferia para o centro. Isso faz com que se perder aqui seja praticamente impossível. Na pior das hipóteses você pega o primeiro ônibus que aparecer que ele vai lhe levar para o centro, e de lá você pega o ônibus que vai para sua vizinhança.

Em Gold Coast o principal meio de transporte também é o ônibus. Só que lá esses são bem modernos e com rotas não tão otimizadas. Lá, se o ônibus está adiantado, o motorista literalmente para no ponto e fica esperando a hora de sair. Não entendi nada quando um motorista simplesmente parou num ponto vazio em que ninguém desceu ou subiu, e ficou lá, esperando a hora de sair só para cumprir o horário. De lá, só não gostei das rotas, para ir de um lugar para o outro, por mais perto que fosse, tive a impressão de estar dando voltas e demorando muito mais que o necessário. A sorte é que o lugar é lindo, assim pude apreciar a paisagem enquanto dava voltas pela cidade.

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Zonas da cidade de Brisbane: Quanto maior a quantidade de zonas do seu deslocamento, maior o valor da passagem.

IMG_6151Onibus em Brisbane: Embora por fora eles não sejam tão novinhos, por dentro são muito bem conservados, com ar condicionado e bancos acolchoados.

IMG_6154Onibus para portadores de necessidades especiais (direita): Quando a porta abre, a suspensão abaixa para facilitar a entrada de passageiros com necessidades especiais.

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Ônibus de Brisbane: Geralmente você viaja sentado, exceto em horários de pico. A diferença entre ônibus lotado aqui e no Brasil, é que aqui ele lota quando as pessoas estão em pé, sem precisar se encostar em ninguém. Quando isso acontece, o motorista não para em mais nenhum ponto até que novos espaços sejam cedidos.

IMG_6145Ônibus em Brisbane: Logo ao lado da entrada há um local para você colocar suas bagagens. Mesmo que você sente na última fileira, ao sair, suas coisas ainda vão estar lá.

IMG_6153Tabela de horário: Presente em todos os pontos, informa quais ônibus param naquela ponto, seu destino e horários de saída.

 IMG_5329City Cat: Trasnporta os passageiros pelo rio de Brisbane. Eles também estão presentes em Sydney.

tremTrem em Brisbane: Alguns mais novos, outros menos novos. Todos são muito bem conservados.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Segunda semana na busca de empregos

Amanhã eu completo três semanas de Austrália e duas semanas focadas na busca de empregos. Minha rotina aqui não tem sido outra, boa parte do meu dia é voltada a realização de contatos, entrevistas, e pesquisas por novas oportunidades.

Na primeira semana meu foco foi na captação de oportunidades, que na prática se traduz em abrir os sites de emprego, localizar as oportunidades que se enquadram em seu perfil e aplicar para a vaga. O resultado dessa semana de captação é a realização de uma série de entrevistas com as empresas de recrutamento e seleção. Por mais que uma oportunidade de emprego não seja muito a sua cara, se quem está publicando é um agente no qual você ainda não visitou, aplique, pois assim você terá a chance de fazer uma visita a ele, marcar presença, mostrar suas qualificações e, quem sabe, sondar outras oportunidades mais interessantes.

Uma coisa interessante desses agentes é qualidade do atendimento e a atenção que eles lhe dão. Sei que no fundo eles estão fazendo o trabalho deles, afinal, quanto maior o número de profissionais em seus bancos de currículos mais competitivos eles ficam, mas em muitos casos eles vão além de simplesmente coletar mais um candidato para seu cadastro. Alguns, ao notar que você é recém chegado, lhe passam uma série de informações importantes, buscam oportunidades que não estão publicadas, se oferecem para ajudar no que for necessário.

É na segunda semana que as coisas começam a caminhar. Agora, ao invés de se encontrar com empresas de recrutamento e seleção, seu contato é realizado diretamente com as empresas que irão contratá-lo. Nessa hora, você passa a ter uma visão mais clara das oportunidades, da estrutura de trabalho, tamanho das empresas, etc. Por mais que você faça pesquisas sobre essas empresas antes da entrevista, é nessa hora que você consegue enxergar coisas como a cultura da empresa, resultados esperados para a posição, situação atual do departamento que você irá trabalhar, etc.

O tipo de seleção deste ponto em diante difere de empresa para empresa. Houve casos em que uma entrevista informal numa cafeteria do aeroporto foi suficiente, houve casos em que tive que passar por uma bancada de três pessoas para avaliar minha experiência e conhecimento, seguida outra entrevista feita com o gerente do departamento para que eu demonstrasse qual estratégia você irá utilizar para chegar ao resultado esperado por eles. A única coisa que se repetiu em praticamente todos os casos foi a pergunta sobre referências do Brasil para que eles pudessem entrar em contato.

Um ponto que requer certa habilidade nessa hora é gerenciar as empresas de recrutamento e seleção. Conforme o processo vai avançando, eles começam a colocar pressão para que você decida pela vaga deles, afinal eles só ganham dinheiro se alocar o profissional, e por isso, eles ficam lhe questionando sobre o status das outras seleções que você está participando. Para não ter problemas com comunicação, adotei a estratégia de ter transparência total, ou seja, toda novidade é comunicada para todos. Com essa abordagem, você tem condições de deixar sempre claro quais as suas possibilidades, pensamentos, e assim você não assume compromisso com ninguém. Estou numa situação até desconfortável agora, pois já recebi a “job offer” de uma das empresas, o que quer dizer que fui selecionado, e agora o agente está me pressionando para tomar a decisão o quanto antes.

A situação é muito complicada, pois por um lado você fica inseguro, já que está sendo pressionado para tomar logo a decisão, e pelo outro você quer esperar o resultado das outras oportunidades para colocar tudo na mesa e escolher a melhor oferta. O problema é que a empresa que quer lhe contratar não pode lhe esperar para sempre, o tempo é o deles não seu. No final, a questão se resume a “aceitar a primeira oportunidade, ou correr o risco de esperar pelas outras para tomar a melhor decisão?”. Eu resolvi optar pelo risco, vamos ver no que vai dar...

quarta-feira, 14 de maio de 2008

O homem mais rico do mundo

Nosso mundo não é justo, infelizmente uns nascem com muito, outros com nada. Existem os que nascem com muito e perdem tudo no caminho, e os que nascem com nada e ficam com muito. Mas antes de definirmos quem é quem, temos que definir o que é muito e o que é nada.

Não quero fazer aqui apologia ao não materialismo, ao desapego a dinheiro nem nada, afinal matéria é matéria, precisamos usufruir de bens materiais, senão não vivemos. Aliás, podemos até viver, mas como monges isolados em algum lugar do planeta. O mesmo vale para dinheiro, é politicamente incorreto falar que ele compra felicidade, também não acredito nisso, mas ele infelizmente é necessário, pelo menos para minha condição de ser humano que vive em uma sociedade capitalista e que tem filhos para criar.

Eu nasci com muito, sempre tive uma condição muito favorável na minha vida. Tive educação, tive alimento, sempre fui acompanhado por médicos e dentistas quando necessário. Em casa, por mais difíceis que tenham sido algumas fases que passamos, nunca faltou nada. Pode até ter faltado um mimo ou outro, mas as condições para o meu desenvolvimento enquanto pessoa e cidadão sempre estiveram lá.

Minha vinda para a Austrália me faz refletir sobre uma série de aspectos relacionados a essa condição de cidadãos que somos. A sociedade aqui possui outra estrutura, você vê que todos têm condições, não há pedintes na rua, todos têm moradia e dinheiro para comida. A escola é pública, o sistema de saúde funciona, e o principal, você é sempre respeitado e tratado como cidadão que paga seus impostos e contribui para o desenvolvimento da sociedade.

Mesmo cercado de todas essas condições e oportunidades, que nem sempre os brasileiros têm acesso, o meu sentimento continua sendo o mesmo. Saí do Brasil sendo o homem mais rico do mundo, cheguei aqui e continuo como tal. Sou o mais rico não pela minha condição financeira, não pelas oportunidades que estão surgindo, nem pela segurança que esse país proporciona.

Cheguei a essa conclusão agora, e embora essas palavras já tenham ecoado em casa por algumas centenas de vezes, só agora percebi o significado delas. Todos sabem que sempre só damos valor ao que temos quando perdemos. Não que eu tenha perdido nada, mas essa viagem me fez me distanciar dos meus mais preciosos bens. Hoje enquanto eu fazia um rápido inventário, descobri isso:

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Olhei para essa foto e pensei: “sou o homem mais rico do mundo!”. Tem como negar? :-P

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Chegada em Sydney – Parte II

No último dia da minha viagem a Sydney, resolvi sair da city para visitar bairros mais residenciais. Fui a Bondi e Mainly. Ambos são lindos. Pelo que pude perceber, Bondi é um bairro mais antigo e tem um clima meio californiano. Antigo porque você vê que a maioria das residências não são recentes, as casas predominam e tem no mínimo uns 10 a 15 anos. Já o clima californiano vem das várias lojas de surfe, assim como surfistas carregando suas pranchas, pessoas de bermuda e chinelos, skatistas etc. Uma coisa interessante é que a poucos minutos do centro, você chega num bairro tranqüilo, com ruas calmas, sem aquela correria de executivos e pessoas se deslocando para todos os lados.

Ao chegar ao litoral você se depara com um visual lindo. A praia de Bondi em si, embora seja muito bonita, não vai além das nossas praias ai do Brasil. Lindo mesmo é o Coastal Walk. Esse é um caminho de 3,5km que interliga as praias que rodeiam Bondi. Ele é feito na beira dos paredões de pedras que formam grande parte do litoral de Sydney. Nessa caminhada, podemos visitar praias menores e mais escondidas, que por serem cercadas por pedras, se tornam mais atraentes. Várias pessoas utilizam esse caminho para correr, passear com seus cachorros, fazer exercício, etc. É um ponto realmente muito bonito, com um visual desse acho que até eu arriscaria umas corridas por lá.

Saindo de Bondi, me desloquei para o outro lado de Sydney visando chegar em Mainly. Infelizmente lá não fica a 15min do centro. E após chegar ao Circular Quay (estação de trem em frente a Opera House e Harbour Bridge) ainda gastei cerca de 40min a 1hora para chegar em Mainly. A princípio achei meio decepcionante. Logo que saí da balsa, olhei para a praia cercada por suas arvores e pensei: é isso? Esses cinqüenta metros de areia com meia dúzia de arvores atrás é a famosa praia de Mainly? Não era. Essa era a praia aonde a balsa chegava. Sem saber disso resolvi caminhar pelo bairro para ver o que ele oferecia. Achei muito interessante. É um bairro que lembra mais Brisbane. Lá tudo é muito novo, organizado, limpo, dá uma idéia de ser realmente uma região mais recente e distante das mazelas que uma grande cidade pode ter. Durante essa caminhada, vi crianças no colégio, várias lojas de ruas, shoppings a céu aberto, velhinhos jogando dominó, e a verdadeira praia de Mainly. Agora realmente bem mais bonita. Mainly é uma praia mais longa que Bondi, e é cercada por árvores ao invés de pedras. Assim como Bondi, não faltavam surfistas pegando onda em plena quarta-feira. Mainly estava mais movimentada que Bondi, e o público era bem diferente. Em Bondi havia mais jovens e surfistas, em Mainly, além deles, havia mães passeando com seus filhos, crianças fazendo piquenique em baixo das árvores, e velhos caminhando e se reunindo nas mesas colocadas no calçadão. Mais uma vez um visual muito bonito.

Voltando para a city junto com o pôr-do-sol, parei para curtir um pouco mais do visual da Opera House, Harbour Bridge e da city. Não é a toa que a maioria das fotos da Austrália fazem referência a esses pontos, é uma visão privilegiada.

Já novamente na badalação, fui conhecer mais uma das opções de Darling Harbour. Desta vez entrei no Sydney Aquarium. Esse é um passeio interessante, mas até entrar no trecho que reporta a vida no oceano, estava me questionando se valera realmente a pena ter desembolsado A$ 29 para entrar lá. Até ai, o mais interessante tinha sido a visão de um crocodilo que, embora grande, ficava longe do que vemos nos filmes e em canais como Discovery e Animal Planet. Quando entramos na vida no oceano o negócio muda. Passamos por um túnel de vidro com vários tubarões, tartarugas, arraias e peixes gigantes nadando sobre a nossa cabeça. Embora não houvesse nenhum tubarão branco, os que tinham lá já eram suficientes para nos encantar.

Infelizmente minha ida a Sydney ficou limitada a esses locais. Lá existem vários outros programas e opções para quem está conhecendo e definindo a melhor opção para se morar. Quem sabe em minha próxima ida eu consiga ficar tempo suficiente para conhecer outras regiões e programas.

bondi1Bondi Beach: Praia linda, água friiiia!

piscina1Piscina de água salgada em Bondi.

piscina2Imagina nadar com um visual desses!

cw1Coastal Walk: 3,5km de caminhada com esse visual.

cw2Coastal Walk: A cada curva uma nova visão e descoberta de novas praias.

cw3Coastal Walk: Além do caminho muito bem conservado, ainda encontramos vários equipamentos de ginástica.

mainly1Mainly: Praia movimentada, mesmo sendo uma quarta-feira.

mainly2Mainly: Muitas mães passeando com suas crianças.

mainly3Mainly: Piquenique da escola. Detalhe, todas as crianças tinham um saquinho para colocar o lixo do lanche que levaram.

mainly4Mainly: Assim como em Bondi, fiquei limitado a andar na areia. Como saí cedo de casa, estava frio e tive a idéia infeliz de ir de calça. Perto de meio dia esquentou, fiquei morrendo de calor, e ainda não pude tomar banho de mar.

  mainly5Colégio em Mainly.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Chegada em Sydney - Parte I

Depois de passar praticamente duas semanas longe de casa, ontem foi um dia especial. Após todos esses dias, somente ontem me dei conta de onde realmente eu estava. Precisei colocar os pés aqui em Sydney para perceber isso. Pela primeira vez em dias, sentei, olhei para onde eu estava e pensei: “porra Eduardo, você está do outro lado do mundo!”. Bom, tenho que admitir que não foi uma sentada num local normal, eu estava sentado olhando para a Opera House e a Harbour Bridge. Acho que precisei realmente estar de frente para o cartão postal da Austrália para ter uma idéia mais clara de até onde eu tinha chegado.

Logo ao sair do aeroporto, peguei um trem para a Estação Central e de cara comecei a sentir as diferenças daqui em relação a Brisbane. O peso da cidade grande de cara foi a maior delas. Diferentemente de Brisbane, onde tudo é limpo e novo, aqui você já começa a perceber que as coisas já são mais antigas e surradas. Não que seja feio ou desorganizado, pelo contrário! Mas são pequenos detalhes que acabam fazendo a diferença. Por exemplo, em Brisbane, precisei de uma semana para ver uma pichação pela primeira vez, e quando vi foi embaixo de uma ponte em South Bank. Aqui, o trem de cara já é todo pichado e surrado.

Todas as coisas boas que falei de Brisbane continuam valendo aqui, o sistema de transporte público mais uma vez me surpreendeu, é até estranho. Imaginem uma situação: Você é um estrangeiro que está chegando ao aeroporto de Fortaleza, ou do Rio ou de São Paulo, não importa. Você tem que chegar ao seu hotel que fica no centro da cidade. Taxi não é uma opção, o que lhe limita a caminhar, ou contar com transporte público. Até aonde você vai sem perguntar nada pra ninguém? Você não dobra uma esquina! Pois ontem cheguei aqui, vim do aeroporto para o Hotel, fui conhecer a Opera House e a Harbour Bridge. Hoje já fui para uma entrevista de emprego, depois disso subi na Sydney Tower. Chute quantas vezes tive que parar para pedir informação? NENHUMA! Tudo é na base da sinalização. Aqui a única preocupação é escolher o meio de transporte que você vai usar. Para dizer a verdade, parei uma vez para discutir qual seria a melhor opção de passagem que eu deveria comprar, se diária ou semanal, e para qual zonas (depois eu faço um post só sobre o esquema de transporte daqui).

Até agora não fui muito longe, não sai do Centro, mas já pude ver como a cidade é imponente. O CBD, como é chamado o centro de negócios, é bem grande, com vários arranha céus. Milhares de pessoas cruzam as curas em todas as direções, seja de carro, ônibus, trem ou a pé. Meu encontro com a Opera House e Harbour Bridge foi inesquecível, ambos são muito maiores do que aparentam nas fotografias. Dependendo do ângulo que você olha para a Opera House, você tem a sensação que está num lugar diferente, não há simetria na arquitetura. Já ao olhar para a Harbour Bridge, você se encanta com a quantidade de metal que forma a ponte. É importante notar que Opera House e Harbour Bridge não são pontos isolados em si. Nesta região existem vários restaurantes, cafés e bares que na beira da baía que lhe oferecem várias opções para você sentar, comer e apreciar o local. Um ponto interessante que notei também, é que no final de tarde, várias pessoas se juntam para correr na beira da baía e no parque que se junta ao lado da Opera House.

O ritmo aqui também é outro, assim como as opções de entretenimento. Um exemplo claro disso é o Darling Harbor. Em um raio de 500m você encontra um museu, o aquário de Sydney, várias opções de restaurantes e cafés a beira do cais, um parque com direito a brinquedos para as crianças e o IMAX, que é um cinema 3D com a maior tela do mundo. Acho que sem dúvida essa deve ser a grande vantagem de se morar aqui, as opções culturais e de laser.

No IMAX assisti o U2 3D, que é um show do U2 na Argentina convertido para 3D. É implesmente imperdível, você tem a sensação de estar no palco junto com o Bono Vox com ele cantando a um metro de distância de você. Uma excelente opção, sai de lá convicto que entre um show ao vivo e uma opção de show em 3D a segunda opção é bem melhor.

Vou continuar minha viagem por aqui e coloco em breve novas impressões sobre essa cidade.

hb01Harbour Bridge: Quando chegamos de trem pela Circular Quay damos de cara com ela. É surpreendente, numa hora você está dentro de um metrô vendo nada além de parede preta, em seguida o trem sai do túnel e nos deparamos com isso.

hb02  Harbor Bridge a noite, show de luzes e de beleza.

op01

Opera House: É bem maior do que parece nas fotos.

op02Opera House: De cada ângulo uma visão diferente.

op03 op04Opera House: Ângulos para todos os lados.

op05Opera House: Desafio arquitetônico. Queria estar aqui com meu irmão (que é arquiteto) na primeira vez que ele visse isso.

op06Opera House: City ao fundo.

st01Sydney Tower: O ponto mais alto de Sydney. A$ 25,00 para subir.

stj01St James: Em baixo uma estação de trem, em cima um parque gigante e maravilhoso.

stj02St James: Jardim de flores.

stj03St James: Túdel de árvores.

stj04St James: Vi várias pessoas literalmente dormindo sobre a grama. Eles saem do escritório, trazem uma toalhinha, colocam na grama e de roupa de trabalho mesmo dormem ao sol.

stj05St James: Caminhada em direção a estação de trem.

dh01Darling Harbour: O local possui várias opções de entreterimento.

dh02  Darling Harbour: Tem uma praça/parque com opções para crianças e adultos.

dh03Darling Harbour: Show de luzes.

dh04 Darling Harbour: Alguém entendeu o que é esse negócio ai ao lado? Me pareceu um coador de café gigante, mas só porque se trata de uma Cafeteria.

terça-feira, 6 de maio de 2008

A construção de uma nova pessoa

Há exatos 2191 dias minha vida mudou. Tudo que eu pensava ser antes disso já não sou mais. É claro que muitos dos princípios continuam sendo os mesmos, mas há 2191 dias meus valores foram ampliados, assim como minha visão de mundo e estrutura emocional.

Há 2192 dias eu era rebelde, não tinha medo de nada, tinha a ousadia de um adolescente, não tinha apego às pessoas e, embora ambicioso, não tinha um sentido claro na minha vida. Eu era capaz de virar noites pensando apenas no trabalho ou em algo que me entretivesse. Tinha sede de crescimento, mas não tinha a maturidade para administrá-la. Eu era capaz de cometer erros e não aprender com eles.

De repente, de um dia para o outro, passei a ver o mundo de uma forma diferente. É como tivessem aberto minha cabeça e bagunçado tudo aquilo que eu vinha construindo durante toda a minha existência. A sensação foi exatamente essa! De uma hora para a outra passei a ver as coisas de forma diferente. Em uma questão de segundos viajei em um túnel para uma dimensão paralela, uma dimensão em que eu continuava sendo o Eduardo, morando na mesma casa, com o mesmo trabalho, com os mesmos amigos, mas com uma idéia de vida completamente diferente.

A vida de uma hora para outra passou a ter um sentido claro. É como se ele sempre estivesse ali, estampado na minha cara, piscando em luzes neon, mas eu não tivesse percebido. De uma hora para a outra, tudo aquilo que eu havia vivenciado se tornou irrelevante perante o que eu presenciava e sentia.

Há exatos 2191 dias atrás nascera o meu filho. Nascera uma nova vida junto com uma nova vontade de viver.

Parabéns meu filho! Você é a melhor coisa que já aconteceu na minha vida!

sábado, 3 de maio de 2008

Uma semana na busca de empregos

Ainda é cedo para falar se estou obtendo sucesso ou não na busca de empregos. Até agora, em cinco dias de buscas, já fiz quatro entrevistas. Todas através de empresas de recrutamento e seleção. De cara já estou sentindo na pele o fato de não ter experiência no mercado local. Recebi várias negações por esse motivo e, em todas as entrevistas que participei isso foi citado como meu ponto fraco. O processo de seleção aqui não é rápido, pelo menos não pelo caminho que estou seguindo no momento, que é usar sites de empregos e empresas de recrutamento e seleção.

O processo aqui, de maneira geral funciona na seguinte forma: você aplica seu currículo para uma oportunidade online. Após isso, as empresas realizam uma ligação para uma filtragem inicial. Nessa hora, o propósito da ligação é ver se você realmente atende todos os requisitos da vaga e verificar se sua expectativa salarial está dentro do oferecido. Nessa hora não tem jeito, não atendeu o requisito eles já praticamente te descartam. É até bom, pois assim ninguém perde tempo. As ligações são geralmente rápidas, somente o tempo de você responder cinco ou seis perguntas. Uma vez que você atende os requisitos solicitados, eles já agendam uma entrevista. O interessante dessa fase é que, dependendo da vaga, se ela for muito disputada entre as empresas de recrutamento e seleção, eles ligam para você imediatamente após você aplicar seu currículo. Teve caso aqui que, sem brincadeira, recebi uma ligação imediatamente após clicar no botão “Submit Application”.

A fase seguinte é uma entrevista na empresa de recrutamento e seleção. O negócio agora é mais profissionalizado, querem saber tudo de você, porque veio para a Austrália, como é que a experiência requisitada pode ser comprovada, que tipo de esporte você faz, como é a sua família, etc. A entrevista é bem interessante e realizada com profissionais muito bem qualificados. Diferentemente do Brasil, aqui não é usado nenhum teste psicológico, nem há a um psicólogo lhe entrevistando.

Uma vez que você é aprovado pela empresa de recrutamento e seleção, eles submetem seu currículo para o cliente deles e, se seu currículo for aprovado, é agendada uma entrevista entre você e o cliente. Nessa fase, antes da entrevista com o cliente, pode ser que seja necessário passar por mais uma etapa, que é você atender ao “key selection criteria”. Nesta etapa, no qual só passei uma vez, você tem que escrever um documento citando exemplos que comprovem a experiência exigida pela vaga. Por exemplo, se é mandatório para a posição “ter experiência em ambientes de missão crítica” você terá que incluir no seu texto exemplos que demonstrem essa experiência.

A entrevista com o cliente propriamente dita só aconteceu uma vez até agora e foi muito tranqüila, mas tenho certeza que as outras não serão assim. Pelo que pude perceber, para compensar a falta de experiência no mercado local, você terá que demonstrar outras forças que compensem essa fraqueza. Como não fui além desse ponto até agora, não sei dizer se existem outras fases além dessas. Uma coisa é fato, o processo é demorado. Supondo que você seja o candidato perfeito para uma vaga que tenha sido desenhada especificamente para você. Se você seguir o processo normal com tudo indo num excelente timing, você não consegue um emprego antes de duas, ou até três semanas.

Pelo que pude perceber é importante você estar atento a alguns pontos nesse processo:

1. Saiba diferenciar as oportunidades: Ao visitar os sites de emprego, você vai ver notar dois tipos de oferta, “contract” e “permanent”. Na primeira opção você geralmente é contratado pela empresa de recrutamento e seleção para prestar serviço para o cliente deles. Nesse caso você é pago por hora e semanalmente tem que apresentar uma planilha com as atividades realizadas para que você seja pago na semana seguinte. Nesse caso, a empresa para o qual você está prestando serviço paga menos impostos, o que pode fazer que o seu salário seja maior. Além disso, como o pagamento é sobre horas trabalhadas, a empresa se beneficia, pois não tem que lhe pagar horas extras, horas não trabalhadas pelo fato de ser feriado, etc. No segundo caso, você é contratado diretamente pela empresa e vira um funcionário normal, com todos os direitos.

2. Saiba entender a remuneração oferecida: Quando a contratação é por “contract” o seu pagamento geralmente é por hora ou dia e não tem conversa. Agora, quando você está buscando uma vaga de permanente, saiba diferenciar os termos “base” e “package”. Quando a referência da remuneração não informar nada além do salário ou contiver o termo “base”, isso quer dizer que eles estão falando do seu salário bruto sem incluir o “superanuation”, ou seja, na prática você recebe o salário (descontado os impostos) e, além disso, é depositado 9% na sua conta do “superanuation”. Quando o anúncio contiver o termo “package”, isso quer dizer que o valor do “superanuation” está incluso no valor, ou seja, na pratica o seu salário vai ser o valor ofertado menos 9%.

3. Aplique para as posições que você realmente atenda os requisitos: Não adianta insistir, não atende os requisitos, nem perca seu tempo. Logo na ligação inicial você será descartado, isso se você chegar a recebê-la. Eles são muito criteriosos no processo de seleção.

4. Prepare-se para a entrevista: O processo é mais ou menos semelhante em todas as empresas. Perguntas padrão serão realizadas por todas elas. Já tenha mais ou menos uma idéia das respostas que você pode dar, saiba desenvolver um raciocínio que realmente demonstre o que está sendo solicitado sem ser prolixo demais. Ainda estou melhorando minhas respostas. Cuidado também para não ter uma resposta decorada, pois eles pode lhe surpreender com perguntas capciosas. Um exemplo disso foi que eu quando eu estava explicando que durante a minha gestão, o faturamento da minha área aumentou trezentos por cento, ai ele perguntou em seguida: “me explique o que você fez para contribuir com o aumento?”

5. Detalhe seu currículo: Diferentemente do Brasil aqui eles querem currículos detalhados. Possuir um currículo de quatro ou cinco páginas não só é normal como recomendado por aqui. Perdi horas fazendo meu currículo e enxugando um monte de coisas para ficar nas tradicionais duas páginas, mas a primeira coisa que me pediram ao chegar aqui foi: “detalhe mais o seu currículo”. Principalmente para nós que estamos vindo de fora. Não adianta só colocar que trabalhei na empresa X, tenho que descrever o que essa empresa faz, qual o seu tamanho, etc. Se você colocar que ministrou algum treinamento, diga para quantas pessoas esse treinamento foi ministrado, qual a duração, etc. Outro ponto importante é colocar no currículo que você é residente, deixando bem claro, em cima, junto com seus dados. Uma das empresas de recrutamento e seleção que me entrevistou, disse que 50% das entrevistas realizadas são feita com estrangeiros, muitos deles sem residência.

6. Seja um candidato ativo: Embora eu ainda não esteja fazendo isso, uma das empresas de recrutamento e seleção disse que em muitas vezes não é suficiente aplicar seu currículo para uma vaga. Em muitas vezes você tem que ligar para demonstrar interesse. Como o numero de currículos enviados é muito grande, com um percentual elevado de estrangeiros sem residência, é bom tomar cuidado para seu currículo não ficar perdido na pilha de aplicações recebidas.

Acho que o mais importante de todo esse processo é manter-se preparado o ciente que, apesar te todas as nossas qualificações, estamos vindo de fora e isso nos deixa menos competitivos. Portanto não espere que vá conseguir o melhor emprego do mundo de cara, nem ache que em uma semana você vai estar empregado. Se acontecer, ótimo, mas esteja preparado para esperar, principalmente porque o processo é realmente demorado. Aqui as seleções são demoradas e planejadas, isso é, as vezes eles começam a procurar um profissional um ou dois meses antes do deadline, o que dá tempo para que eles fiquem segurando seu currículo sem nem sequer lhe dar uma resposta.

Primeiras impressões – Parte II

Existem diversos aspectos que encontrei por aqui que não condizem ou não eram citados em blogs e sites que visitei enquanto ainda estava no Brasil. Embora alguns dos pontos tenham vindo de encontro às minhas expectativas, a grande maioria deles me surpreendeu, principalmente no tocante a pequenos detalhes que fazem a diferença.

Começando pelo o que eu não gostei então, o que mais me decepcionou aqui foi a quantidade de fumantes que encontramos no dia-a-dia. Embora seja proibido fumar em todos os lugares fechados, você não fica imune ao cheiro e fumaça que lhe persegue pela rua. Aqui, se você está andando em uma rua movimentada, principalmente na city, você constantemente está sentindo cheiro de cigarro. Não sei se pelo frio ou cultura local, mas aqui todos fumam demais. Além do cigarro, outra coisa que me incomoda aqui é o... digo... a... hum.., deixa eu pensar... espera mais um pouquinho... acho que meu HD está com uns badblocks... bom, acho que mais nada me incomodou aqui de verdade.

Sobre os pontos que eu não tinha conhecimento, ainda são as pequenas coisas que mais fazem a diferença. Já citei isso aqui, mas realmente a solicitude e simpatia dos australianos é algo que lhe surpreende. Já presenciei isso em diversas situações, seja quando o carro da minha irmã quebrou, seja quando você pede uma informação, seja quando você vai para uma entrevista de emprego, nas mais diversas situações, estamos sempre nos deparando com um povo bem educado e cordial. Quer um exemplo mais específico? Pode até parecer simples, mas os motoristas de ônibus aqui dão bom dia a todos os passageiros que sobem em sua linha. Em complemento, todos ao descerem do ônibus agradecem o motorista pelo seu trabalho.

Outros pontos interessantes do dia-a-dia aqui, ainda relacionado com o povo, vêm do respeito ao próximo e honestidade. Outro dia, eu estava voltando para casa e o ônibus estava cheio. Lá pelas tantas entra uma senhora, e eu, naturalmente levando para dar lugar a ela. Quando eu olho, uma estudante que estava na outra fileira, se levanta para dar lugar a mim. A garota insistiu para que eu tomasse o seu lugar e não sossegou enquanto eu não sentei. Internamente eu pensei: Você está me chamando de velho? Mas claro que não disse isso para ela, afinal eu estava levando uma mochila e uma sacola. Tentei convencer a mim mesmo que esse foi o motivo para ela ter cedido seu lugar, não por minha idade. Outro ponto ainda relacionado com minhas viagens de ônibus, vem do fato de todos os ônibus aqui terem um espaço na frente para você colocar suas bagagens. Se você está voltando do supermercado cheio de sacolas, ao subir no ônibus você as deixa lá na frente nesse espaço. Mesmo que você sente lá na última fileira, na hora de descer suas coisas ainda estarão todas lá, assim como as dos demais passageiros.

O estilo de vida aqui também é bem interessante. Aqui tudo é muito prático, Fastfood, por exemplo, predomina de uma maneira geral, tanto no café como no almoço. De manhã as cafeterias como Starbucks ficam completamente lotadas. Já no almoço todos geralmente trazem seu sanduíche de casa ou então compram alguma comida rápida em alguma loja de fastfood. Nessa hora, os parques ficam completamente lotados, muitos optam por levar seu almoço para debaixo de uma árvore, ou almoçar sobre o sol mesmo, sentados na grama. Diferentemente dos EUA, aqui existem várias opções de fastfood saudáveis. Praticamente em toda avenida mais movimentada tem uma banca de frutas onde você pode comprar frutas frescas, sucos e sanduíches naturais. Há também a opção de sushi em rolinho, nesse caso, ao invés de você comprar os pedaços de sushi, você leva o rolinho e o come em mordidas. As pessoas aqui também são bem ativas, é impressionante a quantidade de pessoas que vão ao trabalho com suas bicicletas, e a noite, os parques ficam cheios de gente fazendo exercício.

Outro ponto que notei realmente bem diferente do que eu tinha visto antes, é o horário de funcionamento do comércio. Até onde eu tinha pesquisado as lojas e shopping centers aqui só funcionavam em horário comercial. Na prática, elas realmente fecham por volta das cinco e meia da tarde, mas em compensação, abrem aos sábados e domingos. Além disso, alguns tipos de lojas ficam abertas até mais tarde, principalmente os supermercados e todo e qualquer tipo de serviço (academia, pilates, salão de beleza, restaurantes, etc.).

Por enquanto é isso, vou fazendo depois outros posts com mais informações do dia-a-dia.

Banca de frutaBanca de fruta no Queen Street Mall. Opção comum não só na rua como também dentro de shopping centers.

Banca de fruta 2Outra banca de frutas frescas na Edward Street

Almoço no parqueAlmoço no parque, muito comum por aqui. As pessoas compram o seu fastfood e sentam na grama para almoçar.

Almoço no parque 2Almoçar no parque exige cuidado, tem uns passaros aqui que literalmente roubam sua comida se você vacilar.

passeio culturalAniversário cultural da China. Várias escolas foram para o South Bank para aprender um pouco da escrita, música, artes marciais e artesanato chinês.

visita inesperadaVisita inesperada. O Império veio coletar fundos para crianças carentes da Austrália.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Vale a pena?

Todos possuem sonhos, vontade de criar e concretizar algo na vida. Alguns têm sonhos mais concretos, de curto prazo e outros sonhos mais amplos para serem construídos durante a vida. Entendo que sonhos podem ser dos mais variados, desde os materiais como um carro, uma casa, um barco, como também podem ser não-materiais, o que inclui a realização profissional, constituição de família, escrever um livro, etc.

Desde que vim para cá, mais precisamente, assim que sentei no avião, ainda em Fortaleza, logo após de deixar as pessoas que mais amo na vida para trás, para que eu pudesse assim perseguir o meu sonho, me questionei: Vale a pena? Vale a pena perseguir um sonho longe das pessoas que você ama? Como será realizar um sonho sem poder compartilhar sua alegria com as pessoas que sempre estiveram ao seu lado, lhe suportando e dando condições para que você pudesse dar mais um passo na busca do que acredita? Será que, mesmo realizando esse sonho, vou me sentir completo quando chegar ao fim da estrada e carimbar “missão cumprida” naquele marco que você traçou para sua vida? Chorei baixinho...

Ainda no avião, na chegada aqui na Austrália, primeiro sobrevoando Sydney, logo em seguida Gold Coast e Brisbane, me encantei com o lugar. Realmente é bonito. A beleza não vem só da natureza ou da cidade. Não estou falando aqui apenas da beleza em aspectos físicos, mas também da sinergia do lugar. Brisbane é uma cidade com dois milhões de habitantes que possui bairros bem próximos ao centro que lhe dão a impressão de estar em uma cidade de cem mil. Aqui as coisas fluem como deveriam, as pessoas são educadas, solicitas e honestas. Todos têm sucesso e estão felizes com a vida que tem. A sensação de segurança é incrível, assim como também a praticidade da vida, a organização e liberdade. Mesmo com tudo isso, ainda falta alguma coisa.

Não se esse sentimento vem do fato de não estar morando no meu lugar, de não ter uma rotina, de não estar trabalhando ou, principalmente, de não estar junto da minha família. Não sei se é o fato de andar na rua e só ver gente estranha, ou se o fato de não estar adaptado ao lugar, as pessoas e ao modo de vida.

O fato de estar expondo esse pensamento não quer dizer que eu não esteja gostando ou desistindo do que estou perseguindo, ou que eu vá voltar para o Brasil. A questão aqui não é essa. Estou apenas tentando demonstrar o tipo de sentimento que temos ao nos deparar como a partida, ao romper os laços com boa parte das coisas que nos constituem, que nos fazem ser o que somos. Voltar ao Brasil ou não, não significa que você teve sucesso ou fracasso na busca pelo seu sonho, mas sim que você, antes de mais dada, buscou a concretização da sua identidade.