sábado, 22 de novembro de 2008

Nuvens negras adiante

Esta semana estamos passando por uma situação atípica. Nos últimos cinco dias tivemos três tempestades bem fortes. O saldo disso são centenas de casas com telhados arrancados, mais de 230 mil residências sem energia e cerca de 14.500 acionamentos de seguro, estimados em 125 milhões de dólares australianos.

O primeiro dia de tempestade foi no domingo, estávamos na estrada retornando de uma viagem. Estava um dia parcialmente nublado com algumas nuvens negras no céu. Em questão de minutos fomos surpreendidos por uma imensa camada de nuvens, com muita chuva, raios e ventos extremamente fortes, parecia coisa de filme. Paramos o carro e aguardamos por cerca de 40 minutos, pois não havia como dirigir naquelas condições, e ficamos então assistindo o espetáculo

Para minha surpresa, quando chegei ao trabalho na segunda-feira e abri os sites de notícia, me deparei com a seguinte manchete: “Queensland tem sua pior tempestade em 25 anos”. O assustador é que a conclusão não foi dada pelo volume da chuva, mas sim pelo nível de destruição causado (calculado pela ENERGEX empresa de energia do Estado). A cena se repetiu novamente na noite de quarta e quinta-feira, causando dessa vez novos estragos à região. A tempestade de ontem, por exemplo, teve mais de 3000 raios e ventos de 90 km/h.

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O interessante de passar por uma tempestade como essa na Austrália, é notar as diferenças entre o que vivenciamos aqui contra o que víamos no Brasil. Aqui temos tempestades de raios, literalmente falando. Vi mais raios nesse último mês do que em toda a minha vida no Brasil. Chega a ser bonito de assistir, e isso é o que eu, além de vários outros australianos, tenho feito nesses últimos dias. Tempestades dessas durante o dia não têm graça, mas à noite o céu vira uma discoteca, onde os efeitos sonoros ficam por conta dos trovões e o visual por conta dos raios. Você olha para o céu e vê literalmente um show de luzes, com diversos raios sendo lançados em questões de segundos.

Outro ponto interessante diz respeito à infra-estrutura. Houveram sim, vários casos de casas e postes destruídos, mas apesar disso, a infra-estrutura básica sustentou muito bem o volume de vento, água e raios. Após uma tempestade como esta, em Fortaleza, por exemplo, o caos ficaria instaurado, com ruas alagadas, bueiros transbordando, crateras nas ruas, pessoas desabrigadas etc. Aqui, as más notícias só foram vistas por mim nos noticiários, fora isso a cidade parecia estar seguindo o seu curso normal. A previsão diz que virão tempestades mais fortes adiante, espero que nossa infra continue agüentando firme.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O maior desafio somos nós mesmos

Quando passamos por uma mudança como essa, notamos que existem alguns fatores que asseguram a sua adaptação e o estabelecimento da sua nova vida. Além dos elementos que suportam diretamente a saúde, educação e segurança da sua família, tais como um bom emprego, moradia, um bom colégio para seus filhos, etc. um dos fatores que têm papel fundamental nesse processo são as pessoas.

Não estou falando aqui dos membros da família (esposa e filhos), mas sim das pessoas com o qual você convive no seu dia-a-dia, seja no ambiente de trabalho ou pessoal. O interessante desse ponto de vista é que, muitas vezes a ajuda vem de pessoas que você mal conhece, ou que, embora conheça, não faziam parte de sua vida há alguns meses atrás.

Acredito que não preciso citar aqui que o apoio da família e das pessoas que o amam é indispensável. Até hoje me impressiono quando falo com meus pais e os ouço dizer para continuar batalhando por aqui. Será que um dia terei coragem de falar o mesmo para os meus filhos, em vez de implorar que eles voltem para baixo das asinhas do papai?

Ao chegar num lugar desconhecido, por mais auto-suficiente que você seja, em algum momento você cai na realidade e vê que é preciso se inserir em algum tipo de contexto. O mais natural nessa hora é você buscar aquele no qual está mais acostumado, ou seja, o contexto dos brasileiros. Não sei se pela barreira do inglês, que não permite que você tenha a mesma espontaneidade que tem com o português, ou se por própria afinidade mesmo, mas as pessoas que mais nos apegamos aqui são brasileiras.

É muito bom estar perto de pessoas que estão passando ou já passaram aquilo que você está vivenciando. É como nascesse na relação uma sensação de parceria, no qual todos estão no mesmo barco, ajudando e sendo ajudados. Quando percebemos, nos vemos quebrando todas as barreiras e receios que tínhamos no Brasil. Trata-se de solidariedade pura, e como em toda relação, que gira em torno de interesses, nestes casos, notamos sempre a presença de interesses saudáveis. Vejo pessoas nos ajudando pelo simples fato de terem sido ajudadas no passado, gerando assim um ciclo de colaboração.

Num clima desses não podíamos deixar de encontrar pessoas que nos tocam, que nos fazem sentir completamente a vontade, mesmo as conhecendo há tão pouco tempo. Essa experiência começa a mostrar então outros lados positivos, lados que estavam estagnados há bastante tempo, num ambiente no qual já tínhamos certo conforto sobre nossas relações e estrutura emocional.

As condições básicas para um estrangeiro se estabelecer na Austrália já são dadas. Moro hoje num país que vivencia uma economia de pleno emprego (com taxa de desemprego entre três e 4%), com uma excelente distribuição de renda, com um ótimo sistema de saúde e ensino públicos, com um governo que atua ativamente em prol do cidadão, etc. Se essas condições básicas já são dadas, cabe a você então romper suas barreiras e limitações para se inserir no mercado de trabalho e no contexto social. Se você conseguir superar ambos os desafios, sua chance de ter sucesso na mudança se eleva consideravelmente.