terça-feira, 4 de março de 2008

Histórias de ninar

Há cinco anos nove meses e vinte e seis dias coloco meu filho para dormir. Desde que ele nasceu tenho cumprido esse ritual diariamente, desde seus primeiros dias de vida até hoje. Sempre coube a mim o privilégio de desfrutar desses momentos únicos de isolamento e cumplicidade. Por mais que minha mulher sempre me ajude durante minha ausência, faço questão de ter esse momento com ele todos os dias.

DSC00322Para mim, essa hora é uma das mais mágicas numa relação entre pai e filho. É nesse momento que potencializamos a intensidade de nossa relação, aproveitamos todos os segundos disponíveis para termos um espaço só nosso, para compartilharmos sonhos, experiências, carinhos, chamegos... Percebo que a hora de dormir é muito especial para uma criança. Esse é um dos únicos momentos do dia que eles conseguem desacelerar e trabalhar única e exclusivamente com a imaginação. Por mais que eles a usem durante todo o dia em seus inúmeros desenhos, brincadeiras, atividades escolares, etc. é na hora do sono que eles param, fecham os olhos, relaxam o corpo e trabalham somente com as imagens que saltam a sua mente.

É impressionante o quanto uma simples historinha de ninar pode mexer com suas emoções nessa hora. É lindo vermos o sorriso nos seus rostos quando abordamos um tema mais engraçado, ver como eles seguram as mãos próximas a boca em momentos de suspense, ver seus olhares empolgados na hora que a historia começa a crescer, e como eles escondem sua cabeça em baixo do travesseiro durante seu desfecho.

Ultimamente tenho experimentado não só contar as histórias para ele, mas envolvê-lo na criação. Geralmente eu entro com a trama e narro os acontecimentos, deixando para ele a função de inventar as personagens e suas características. É espantoso como pequenos estímulos são suficientes para deixar sua mente ir longe, se envolver totalmente na história, saltar na cama de excitação, pulando de alegria ao descrever os movimentos de seus personagens e como eles reagem em determinadas situações.

Por mais incrível que esse momento seja, é nele que percebo o contraste envolvido na criação de nossos filhos. É nessa hora DSC00164que vejo como sua pureza e inocência podem se tornar suas maiores vulnerabilidades. De um lado suas maiores virtudes, do outro sua maior fragilidade. Como evitar que tanta pureza não seja contaminada por nossos vícios? Como fazê-los esquivar de nossos temores? Como retratar a decadência de nosso mundo sem causar-lhes medo?

Infelizmente não posso negar que nós adultos somos os principais responsáveis por podar sua imaginação, somos nós que inibimos seu potencial, e, mesmo de forma inconsciente, acabamos limitando suas visões ao que conhecemos e acreditamos. Enquanto isso não acontece, eu vou curtindo o momento, vou continuar viajando com ele em nossas historinhas, continuar com meu sorriso de pai coruja enquanto ele inventa seus heróis imaginários e pula de alegria, desfrutando assim de mais um momento mágico que temos ao sermos pais.

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