sábado, 11 de outubro de 2008

Seis meses de Austrália

Sexta feira, cinco horas da tarde, estou no ponto de ônibus esperando meu transporte para casa, ouvindo Viva lá Vida do Coldplay e jogando Paciência no meu Iphone. Apóimages seis meses de Australia você cai na rotina e começa a esquecer os motivos que o trouxeram para o outro lado do mundo. Por um instante tudo aquilo que você veio buscar não é mais novidade, agora é realidade e é nesse momento que você percebe que está integrado ao novo sistema.

Pensem no cenário: Eu, Eduardo Bindi, às cinco horas de uma sexta feira, parado num ponto de ônibus, esperando condução para ir para casa, com um Iphone na mão em pleno centro da cidade. OK? Agora mude o tempo para seis meses atrás e o lugar para o centro de Fortaleza. Quais dessas condições seriam realidade? Nenhuma!


Primeiro porque eu não estaria voltando às cinco da tarde para casa, o trabalho no Brasil nunca terminava antes das seis, seis e imagemeia.  Segundo porque não estaria voltando de ônibus, coisa impraticável em qualquer cidade brasileira, seja pelo caos do transporte público, seja pela falta de segurança. E finalmente, eu poderia estar até com um Iphone, mas ele estaria guardadinho no meu bolso e no modo silencioso, evitando assim exposições desnecessárias para o caso de ligações.

Essa mudança esta sendo marcada por momentos e fases, num primeiro momento você fica dormente, pois está ao mesmo tempo maravilhado e confuso. Não sei se por conta da diferença de fuso horário, que lhe deixa zonzo nos primeiros dias, ou se pela diferença do lugar, mas os primeiros dias são marcantes. Você está num novo local, tudo é diferente, você repara todos os detalhes, o jeito que as pessoas se vestem, os prédios, as ruas, as comidas, carros, etc. A impressão que você tem é que suas pupilas ficam dilatadas durante todos os segundos do dia, como se seu cérebro estivesse comandando seus olhos a não perderem nenhum detalhe, e não deixar passar nada despercebido.

Após esse primeiro baque, que dura alguns dias, você entra em lua-de-mel, onde tudo passa a ser maravilhoso. Você já começa a se familiarizar com o lugar e ao invés de ficar vidrado como nos primeiros dias, você começa a relaxar e curtir as diferenças e novidades. Nessa hora você não vê problema em nada, tudo é fácil, você não vê a hora de estar adaptado com tudo montado e pronto para dar seqüência a sua vida. Talvez esse seja um dos motivos de se estar em lua-de-mel. Como você está empenhado demais com as novidades e com a estruturação da sua nova vida, não há muito tempo para pensar, só fazer. Seu dia-a-dia fica totalmente preenchido com passeios, entrevistas de emprego, vistoria de casas para alugar, visitas aos órgãos do governo, etc.

Quando tudo está estruturado, emprego arrumado, casa montada, carro comprado, crianças matriculadas no colégio,você entra na terceira fase. Agora você começa a vivenciar a rotina dessa nova vida. Só que você começa a comparar essa rotina com a do Brasil, que você gastou anos para estruturar. Quando eu falo estruturar rotina, falo não só nas atividades do dia-a-dia, mas também dos programas de finais de semana, círculo de amizades, família, esportes, etc. Agora, você já se acostumou a abrir o seu laptop no meio da cidade sem ficar preocupado, você já houve seu filho de seis anos falar que voltou sozinho do colégio e não dá bola para o ocorrido, você já não lê mais diariamente as notícias de corrupção do seu país. Então você começa a comparar uma vida na qual os benefícios você já se acostumou, com a falta da sua família e amigos, com a sua insignificância no emprego que você acabou de arrumar, e com as inseguranças que uma mudança desse tipo traz.

Mal vindo a fase quatro! Quem disse que mudar para o outro lado do mundo é fácil? De fácil não tem nada, pelo contrário! Quando a saudade bate, ela bate forte, e é ai que você se vê triste por uma semana, duas, um mês! E o pior de tudo é que você está triste e não sabe o porquê. Todos os dias você acorda angustiado e como não consegue ver problemas nem ninguém para colocar a culpa, o que seria a saída mais fácil, você começa então a expor e visualizar suas próprias vulnerabilidades, que nem sempre são fáceis de serem encaradas. Antes eu estivesse no Brasil, aí pelo menos eu poderia colocar a culpa no Lula.

O mais importante nessa hora é saber que essa fase passa. Pode até demorar, mas passa. Como todo momento, em que a emoção está falando mais alto que a razão, essa hora não é o momento de decidir nada, de planejar nada nem de avaliar sua decisão de emigrar para outro país. Nessa hora você só tem que procurar o que fazer, manter-se ocupado e dar tempo ao tempo. Quando você vê, as coisas começam a se encaixar melhor, seu tempo está preenchido e você começa a produzir mais.

Quando você percebe, você está parado num ponto de ônibus, às cinco da tarde de uma sexta-feira, brincando com seu Iphone e totalmente envolvido com sua nova realidade, com sua nova vida, e construindo sua nova história.

Será que isso representa a fase final do processo de adaptação?

Uma coisa é certa, ainda é muito cedo para dizer se essa história continua sem grandes emoções ou se ainda existirão outras fases até o processo de adaptação estar concluído.

4 comentários:

Unknown disse...

Boa cara, bom ler os posts de vocês de novo. Daqui a pouco estréio o meu! ;)

Abraço.

Fabio Hemylio

Unknown disse...

Oi Eduardo,tudo bem por ai né!!Já tinha lido seu blog antes,mas agora resolvi te escrever.Parabéns pela coragem de mudar...mudar é difícil e com uma família então nem se fala...mas fico feliz de ver como você e sua família estão lidando com todas as mudanças e a saudade ,que pra mim seria o mais dfícil de lidar,mas vejo que está todo mundo empenhado em dar força pra vcs ficarem,isso é maravilhoso!!!Parabéns pela clareza de idéias que estão sendo escritas,dá até pra sentir toda emoção de vocês!!Fica aqui o meu incentivo que vocês vivam essa experiência sem olhar pra trás e eu aprendi que sentir saudade é bom,pois é sinal de que tudo que passou valeu a pena ter vivido ou ter sentido!!Beijo na sua família que é realmente linda!Abraço....

marcus disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
marcus disse...

Irmão querido, fico impressionado cada vez que leio um post seu! A forma simples e clara com a qual vc consegue transparecer toda a emoção que esta sendo esse processo de mudança para vocês, mas o fato é, a mudança ocorre também para aqueles que ficam, acostumados com a rotina que vc descreve muito bem em suas palavras. Sabemos que o Brasil é um país com muitos problemas, e olha que nem tudo é culpa do LULA, mas apesar de tantas dificuldades que a nossa terrinha nos apresenta, sempre fomos contemplados com uma rotina trabalho e programas simples, mas que nos faziam refletir o quanto somos abençoados. Não me atrevo nem a comparar a nova qualidade de vida que um país desenvolvido pode oferecer, mas o fato é, as lembranças ficam, a saudade aumenta e o dia a dia não e mais o mesmo, fica a sensação de que esta faltando alguma coisa! Lá no fundo, apesar de sabermos o que nos aflige, substituídos esse sentimento por uma alegria é preenchido pelo fato de saber que nossos amigos estão felizes e trilhando um novo caminho de sucesso. Com certeza essa é a maior mudança para aqueles que ficam!

Amamos vcs

Marcus e Samia