domingo, 17 de fevereiro de 2008

Os melhores do mundo

Existem diversas áreas hoje que podemos bater no peito e afirmar com orgulho que somos os melhores do mundo. Etanol, por exemplo, nenhum país hoje possui maior índice de utilização de carros bi-combustível que o Brasil. Os demais não chegam nem perto. Na área dos esportes também temos várias áreas de destaque, nossa supremacia no futebol e vôlei é incontestável. Porém, em diversas outras áreas somos sem dúvida os melhores, mas infelizmente não podemos ter orgulho disso. Somos uns dos melhores na cobrança de impostos, nossa carga tributária é a segunda mais alta do mundo sobre salários e terceira no geral. Também somos um dos melhores na arte de complicar, temos hoje a maior carga burocrática do mundo. É sobre isso que quero falar um pouco hoje.

Aqui no Brasil a burocracia existe, pois já partimos do pressuposto que todos são desonestos, que sempre iremos tentar burlar o sistema. E o pior é que isso é fato! Aqui somos preparados para burlar o sistema desde crianças. Minha sobrinha de sete anos nunca tinha feito uma prova na vida até o ano passado. No dia da prova, ao chegar à sala, ela encontra uma professora dizendo: “atenção crianças, vamos organizar a sala para a prova, todos tem que sentar em fileiras intercaladas, guardem o material embaixo da mesa e o mais importante, VOCÊS NÃO PODEM PESCAR heim!!”. A menina nunca tinha ouvido o termo na vida, nem pensado sobre o assunto. Qual a primeira pergunta que ela fez ao chegar em casa? “Papai, o que é pescar?”. O colégio ensinou o que é pescar a minha sobrinha!!!

Imagina essa mesma situação agora com um adolescente e toda sua capacidade de questionar tudo, de sempre querer fazer diferente. Pronto! Você acabou de colocá-lo a prova, estimulá-lo a querer pescar só para se rebelar. Não satisfeitos, criamos não só o estímulo, mas fazemos questão de especializá-los no assunto. Pescar a resposta do colega do lado? Não se pode mais fazer prova com ninguém do lado. Cola dentro do boné? Não se pode usar boné durante a prova. Trocar as respostas com o colega? Provas com versões diferentes e respostas trocadas. Estimulamos a criação de novas técnicas e métodos. Quando eles chegam ao vestibular o resultado não podia ser outro: Microfone escondido, gabarito comprado, documento falsificado. É a criatura voltando-se contra seu criador. Criamos especialistas em colar! Peritos em burlar o sistema! Os melhores do mundo no assunto!

Em um cenário como esse, acho que temos justificativas suficientes para elevar os controles, criar todos os mecanismos possíveis para assegurar que os procedimentos sejam cumpridos. Mas como fazer isso no país do “jeitinho”? “Pô, vamos resolver isso entre nós, para quê seguir os trâmites normais? Vai levar 30 dias até termos a resposta”. Quando vejo minha mulher imprimindo “quinze” vias do mesmo documento para entregá-los a “quinze” órgãos diferentes só para nacionalizar uma mercadoria, pergunto: será que esses “quinze” órgãos analisam efetivamente essa documentação? Tenho certeza que não. Um ou dois no máximo vão ler o documento, o resto só vai arquivar para “cumprir o processo”.

Temos que questionar se o custo da burocracia hoje não é muito maior que o benefício de não tê-la. Temos toda uma estrutura montada para sustentar esse modelo que não funciona, que nos estimula a querer burlá-lo, que nos faz resgatar nosso instinto adolescente para desenvolver técnicas para levar vantagem em cima. Não seria mais fácil tratar da causa do problema em vez de criar remendos para ele? Não seria melhor tratar as questões morais e éticas e nos estimular a fazer o correto? Não seria mais fácil multar e prender os que burlam o sistema ao invés de penalizar a todos? Não é uma tarefa fácil, mas quem disse que o correto é o mais fácil?

“Keep it simple”

Um comentário:

Maria Renata Rotta Furlanetti (Marie) disse...

Se não fosse o correto gerar satisfação pra uns e indignação pra outros ...

A idéia da burocratização era só criar um mecanismo em que se obrigasse as pessoas a agir de acordo com o censo comum para uma vida social possível, e deu no que deu, onde estamos hj, sistemas pra controlar sistemas, assim por diante.

Questinoando, se indignando somos cada vez mais um a quere resolver do nosso próprio jeito, uns pagando impostos, outros achand q a informalidade resolve o problema de renda das classes baixas e ainda obriga o governo a regulamentar sem combrar tanto por isso.
Por mais boa intensão que nossa mente ache nisso, é só nossa opinião, nosso jeito, nosso conceito de correto, por isso acredito que voltar para Si Mesmo, observa a Si Mesmo, nossos medos, nossos desejos, nos tornaremos mais compreensivos com os "corretos" dos outros, aprenderemos a respeitar as diferenças e quem sabe aprendemos também a vivermos com menos para sobrar mais pra quem precisa de mais pra ser feliz, pra achar razão na existência.
Em busca... Marie