sábado, 9 de fevereiro de 2008

Sou brasileiro

Umas das piores sensações de se tornar um emigrante vem do conflito gerado entre o fato de ser brasileiro e a influência deste fato nas inevitáveis comparações entre o nosso país e os de primeiro mundo. De uma hora para outra você começa a visualizar uma série de defeitos em seu país. Não que você não os visse antes, mas eles começam a te incomodar mais. Acho que isso vem do fato de já estarmos acostumados com esses problemas, e ao realizar que não teremos mais que conviver com eles no futuro, ficamos com vontade de nos livrar logo deles. Como não podemos, acabamos comparando, e pior ainda, reclamando.


Pronto então! Ir embora do país resolve todos esses problemas!! De uma hora para outra não temos que ouvir mais as mentiras descaradas do nosso presidente, não temos mais que parar no sinal e implorar para que aqueles homens mal encarados não limpem seu pára-brisa com água suja, não temos mais que lidar com a situação de ver seu filho de cinco anos presenciar um assalto e ficar completamente traumatizado por isso. Puf! Tudo simplesmente desaparece! Estou certo em fugir dos problemas em vez de tentar resolvê-los?


Essa é uma pergunta muito complicada de se responder, pois na minha concepção não estou fugindo do problema, estou tentando buscar solução para melhor enfrentá-lo. Sou adepto da crença que uma pessoa não muda um país, a mudança só é realizada por seus residentes. Se todos fizerem a sua parte, por menor que seja, o país se transforma. Eu não tenho como entrar em cadeia nacional, fazer um discurso e da noite para o dia mudar os valores e modo de vida dos brasileiros. Ninguém tem esse poder. O que eu posso fazer para acabar com a miséria? Assegurar que minha empregada tenha um salário justo, o melhor que eu possa pagar. O que eu posso fazer para acabar com a corrupção? Não me corrompendo, sendo honesto, e assegurando que meus filhos também sejam (se é que tenho esse poder). O que posso fazer para reduzir os impostos? Pagando todos eles em dia, exigindo nota fiscal e tentando minimizar a informalidade. São ações simples, muito simples para uma pessoa, mas complicadas demais para serem implementadas em larga escala.


Uma das minhas principais motivações para emigrar para a Austrália é justamente cumprir uma dessas pequenas tarefas. Quando vejo adolescentes de pais honestos me questionando porque que eu não dei dinheiro para o guarda para me livrar de uma multa de trânsito, noto que a corrupção está presente na cultura dos brasileiros. A “Lei do Gerson” geralmente fala mais alto, e isso é o tipo de coisa que não podemos negar. Ah se os políticos roubam, vamos roubar também! Para que pagar impostos se eles vão embolsar tudo? As vezes me questiono se o brasileiro é corrupto por causa dos seus políticos ou se o contrário, estou cada vez mais convencido que os políticos são o reflexo de sua população. Quando vejo cargos públicos sendo negociados entre partidos de forma escancarada e isso sendo noticiado no Jornal Nacional sem causar a menor indignação nos telespectadores (nem mesmo nos jornalistas), vejo que todo brasileiro acha tudo isso normal. Aqui o interesse do individual sobre o coletivo sempre fala mais alto.


O fato de eu ser brasileiro e ter orgulho disso não quer dizer que eu tenha orgulho de tudo que os brasileiros fazem. Quero, através dessa mudança, justamente poder mostrar para os meus filhos uma outra realidade, mostrar um país que funciona, um país onde pedágios não tem caixa, você enquanto motorista é quem anota os pedágios que passou para pagar depois. Que o governo sabe que todos vão pagar, e que se isso não acontecer, não haverá impunidade, onde os desonestos são efetivamente penalizados. Dessa forma espero que meus filhos ao retornarem para o Brasil, tenham uma referência, tenham senso crítico e condições de, não só questionar a “Lei do Gerson”, mas se indignar com ela. Assim quem sabe eles ajudarão a transformar o Brasil.

2 comentários:

Unknown disse...

Falou e disse...faço minhas as suas palavras. Essa sensação de impotência com relação ao que acontece bem na nossa frente todos os dias vai minando aos poucos nossa vontade de ficar e lutar pelo "Brasil do futuro". Torço que esse país tão bonito e de gente tão alegre possa um dia se orgulhar de ser justo e seguro, mas acho que não vou viver o suficiente pra ver isso; talvez nem meus filhos ainda por vir. Quem sabe meus netos.

Unknown disse...

Fala Eduardo, beleza?

Meu nome é Wagner e tô indo pra Australia dia 6 agora com um PR...

Muito bom o teu post... tô contigo e não abro. Tô acompanhando teu blog e tá muito legal... Também to tocando um blog, http://wagnernaaustralia.blogspot.com, e gostaria de saber se posso te linkar lá.

Abraço!