quarta-feira, 28 de maio de 2008

Funcionário público

No Brasil existem dois meios de se tornar funcionário público, via concurso ou através de cargo comissionado. Os dois são um problema para o país. Quando falamos de concurso público estamos falando de um processo extremamente lento, não só devido a burocracia que um órgão tem que passar para lançar uma seleção, mas também porque esse processo está sujeito a fatores externos, como impugnação, liminares, processos judiciais, etc. Além disso, ele é um processo extremamente ineficaz, pois após esperar meses ou anos, o órgão público fica sujeito a receber um profissional completamente despreparado para a posição, uma vez que o único critério de avaliação é uma prova, que não mede competência de ninguém.

Quando falamos de cargo comissionado o problema se agrava mais ainda. Não pela flexibilidade do processo, que pode facilitar bastante a contratação de mão-de-obra qualificada, mas pelo fato deste ser utilizado amplamente como cabide de emprego para parentes, filiados de partidos, amigos, sobrinhos, fantasmas, etc. Claro que existem vários funcionários com esse tipo de vínculo que dão grandes contribuições para o país, mas na minha visão, a baderna é tão grande que o resultado não compensa.

Com três semanas de Austrália virei funcionário público. Não precisei fazer concurso nem ser indicado por nenhum político para conseguir isso, mas sim passar por um processo de seleção rigoroso para conseguir a vaga. Para vocês terem uma idéia, a vaga estava aberta desde Dezembro do ano passado, e ao todo passei por quatro entrevistas, tive que responder a um key selection criteria, demonstrar quais seriam as minhas ações para entregar os resultados esperados para posição, e, para finalizar, tive que apresentar duas referências do Brasil que atestassem minhas qualificações. Só aceitaram indicações que falassem inglês, pois o contato só poderia ser via telefone, nada da email, carta, fax, telégrafo, sinal de fumaça, etc.

Trabalho para a Sparq Solutions que é um integrador de TI pertencente aos dois provedores de energia do estado de Queensland, a ENERGEX e Eregon Energy. Sabe qual a principal diferença entre a minha posição e a de uma empresa privada daqui? Nenhuma! Não há distinção, trabalho para uma empresa pública e isso não faz de mim um funcionário público. Até onde pude perceber esse título não existe por aqui. Assinei o contrato há uma semana e só agora me dei conta que quem paga o meu salário é o Governo Australiano! E assim como qualquer funcionário, estou sujeito as regras do mercado, posso ser demitido, promovido, ter meu salário aumentado, tenho métricas de desempenho, metas a bater, etc.

Mesmo após quatro semanas tendo contatos frequentes com a empresa, só me dei conta disso hoje enquanto meu chefe me explicava que, devido ao fato da Sparq ser uma empresa pública, o nosso processo de aquisição também tinha que ser público, e isso o tornava mais demorado. Ainda não sei dizer se há diferenças de trabalhar numa empresa pública ou num órgão do governo, não sei se isso tem diferença no Brasil também. Mas considero interessante o fato de ter levado um mês para perceber quem realmente é o meu empregador, pois no Brasil, independentemente de qual empresa você entra, você logo percebe se ela é pública ou privada.

Um comentário:

Manny disse...
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